Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1
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CAPITULO XVI


A Troca e a Compra


Ficamos à primeira vista impressionados pela simplicidade da regra do
casamento Katchin. Basta, ao que parece, a afirmação da união prefe·
rencial com a filha do irmão da mãe para que se forme uma roda sutil
e harmoniosa, na qual as grandes unidades sociais, assim como as meno-
res, encontram automaticamente seu lugar, e onde podem também, sem
comprometer o acordo geral, improvisar evoluções mais restritas, tais
como os ciclos ternários das famílias feudais, que se incluem tão facil·
mente no ciclo quinário de que todos os grupos participam. A simples
fórmula da divisão em mayu ni e em dama ni parece assim rica de possi·
bilidade e basta para introduzir uma ordem equilibrada em uma reali·
dade complexa. Realmente, esta fórmula domina toda a vida social, e
dela pode dizer·se o que Sternberg escrevia a respeito da fórmula idêntica
que preside as instituições dos Gilyak: "Estas instituições devem ter por
fonte algum princípio único e simples, algum imperativo categórico acei·
tável pelo esplrito primitivo, a partir do qual, como de uma semente,
pôde sair a complexa organização das instituições indígenas ..... '
Com efeito, a lei da troca generalizada parece estender·se até mesmo
além do casamento. "É uma coisa grave e vergonhosa que um rapaz
tenha relações sexuais com uma filha de sua famflia ou de sua tribo
dama, mesmo se o grau de parentesco entre eles é muito distante. Os
anciãos dizem que esses casos são muito raros. e sempre severamente
punidos, porque estas uniões nunca poderiam tornar·se legítimas. Mas
um rapaz dama pode, sem desonra embora não sem perigo, ter relações
com uma moça mayu ... " 7 Em tribos vizinhas a mesma lei inspira as
regras de distribuição. Entre os Rangte o tio paterno da noiva tem
direito a receber um búfalo chamado mankang. "Se há três irmãos A, B
e C, B tomará o mankang das filhas de A, C o das filhas de B e A o
das filhas de C".' Até a vendeta entre os Haka Chin e os Katchin toma
uma forma que lembra a troca generalizada. Um grupo ofendido A só
pode se vingar do ofensor B por intermédio de um terceiro grupo C,
inimigo de B. É a instituição do sharé, ou assassino pago para executar
esta ação,' da qual se conhece um interessante equivalente na Africa. ,.


  1. L. Stornberg, The Social Organization of the Gilyak, ms. entregue por Franz
    BOáS à Biblioteca do American Museum of Natural History de New York (marca
    de clasSificação 57, l-57), p. 17. 2. Ch. Gilhodes, op. cit., p. 209.

  2. Ten-Cor. J. Shakespear, The Lushei-Kuki Clans, op. cit., p. 146.

  3. W. R. Head, op. cit., p. 29. W. J. S. Carrapiet, op. cit., p. 29·3l.

  4. Clement M. Doke, Social Control among the Lambas, Bantu Studies, 2, 1923,
    n. 1, p. 36.


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