propriamente dito varia entre dois búfalos, dois gongos, dois cortes de
seda, vários rolos de linha, um vestido de seda, e quatro ou cinco jarras
de licor I se for uma moça do povo, e três ou quatro vezes mais se for
uma moça bem nascida. Além disso, será preciso incluir uma presa de
elefante, um escravo, um fusi!, duas libras de prata, etc." Anderson,
citado por Wehrli, acentua também o preço considerável pago pelas filhas
dos senhores: um escravo, dez búfalos, dez lanças, dez sabres, dez obje-
tos de prata, uma panela, duas roupas. ". Está claro que estas prestações
passam·se entre grupos e não entre indivíduos. Do lado do homem,
porque o pai pede ajuda à sua familia para constituir o preço do casa·
mento do filho. Do lado da mulher, em parte porque há pluralidade de
beneficiários e de ofertantes (para os presentes deVOlvidos), e por outro
lado porque, por considerável que seja, o preço da noiva é apenas um
dos inumeráveis pagamentos que são devidos por ocasião do casamento,
ou de um falecimento, ou de qualquer outra ocasião importante que põe
em questão a relação entre dois ou vários grupos.
É preciso ler este tesouro desconhecido da etnografia contemporã·
nea o Hand Book 01 the Haka Chin Customs de W. R. Head, para com·
preender, nos sistemas desse tipo, a complicação quase fantástica das
trocas matrimoniais. Analisá·las em detalhe obrigaria a reproduzir tex·
tualmente o tratado de Head, e por isso contentamo·nos em apresentar
algumas amostras. Se o casamento faz·se entre habitantes da mesma
aldeia, as prestações exigem os seguintes pagamentos: ta man, preço
do irmão ou do primo; pu man, preço do tio; ni man, preço da tia, nu
man, preço da mãe; shalpa man, preço do escravo. Se os noivos habitam
aldeias diferentes convém acrescentar: ké toi, preço para ir a pé (ao
irmão, tio e tia) e don man, preço do encontro (com o irmão, o tio e
a tia). Finalmente, nas aldeias do sul, in kai man, preço para se casar em
uma família. Tudo isto é somente preliminar do man pi, grande paga-
mento (ao pai ou ao seu herdeiro) e do pun taw, preço da moça (ao
pai ou a seu herdeiro, transmissível, em caso de morte do marido antes
do pagamento, ao irmão da mulher que recolherá mais tarde o pun taw
da filha mais velha).'"
Tudo isto parece já muito complicadO. Mas consideremos somente
um destes pagamentos, o ni man, ou preço da tia. Este compreende
por si mesmo três prestações, a saber, o sacrifício de um porco, o
mante ou pequeno pagamento e o man pi ou grande pagamento. Por
falta de espaço só analisaremos aqui o pequeno pagamento. Subdivide-se
da seguinte maneira: 1.° a tia escolta a sobrinha até a casa do marido
e exige uma faca, porque se supõe que teve de usar a sua para abrir o
caminho através da floresta; 2.' a tia exige uma pérola para penetrar no
recinto da casa do noivo; 3.° recebe um presente para subir a escada
exterior; 4.° recebe ferro, para "lamber o ferro", rito de amizade; 5.0
dão-lhe um cobertor, para sentar-se na casa, e 6.° uma taça para dar
de beber aos que discutiram o preço com ela; 7.' é preciso agora apre-
sentar-lhe outros dons propiciatórios, para dissuadi-la de retomar com
a sobrinha o caminho de volta, dando-lhe, além disso, 8.' pérolas de
- Gilhodes, op. cit., p. 212.
- H. J. Wehrli, op. cit., p. 28.
- Head, op. cit., p. 2-7.
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