Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

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nização dualista pode ser decididamente excluída. O fato apresenta par.
ticular importância dadas as discussões sobre a eventual existência na
China de um antigo sistema de gerações alternadas," fundadas sobre
indicações do mesmo tipo. Seja como for, se os primeiros filhos morrem,
conclui-se que os nomes em uso na família são desfavoráveis, sendo
então substituídos por nomes de estrangeiros: mi-wa, chinês; mien, bir-
manês; sham, shan; kala, estrangeiro; mayam, escravo; etc. Finalmente
há os apelidas, mying khaut, cujo emprego não é constante, e os nomes
religiosos que sé juntam aos termos ordinais. Assim, para uma moça
mais velha, Nang Kaw, forma·se o conjunto Jatsen Nang Koi. ,.
Achamo-nos. pois, em face de duas oposições, uma entre a simpli.
cidade das regras de união preferencial e a complexidade do sistema
das prestações, e outra entre a pobreza dos termos de referência e a
riqueza dos termos de denominação. 3D Ora, percebe-se imediatamente Uma
relação entre os dois primeiros membros de cada par. Há poucos termos
de referência porque a regra do casamento equipara os aliados a um
certo tipo de parentes, de onde uma primeira economia de termos. E
em seguida porque as relações familiares são pensadas em função dos
grupos (mayu ni e dama ni), por conseguinte os indivíduos só precisam
ser qualificados sumariamente e relativamente à sua posição na estrutura.
Haverá também uma relação entre os elementos do segundo par, isto é,
a multiplicidade dos termos de denominação é função do sistema das
prestações? Sim, sem dúvida. O lugar de cada criança deve ser clara-
mente marcado com relação à ordem dos nascimentos, por causa da
complicação do direito de herança que é conseqüência do casamento por
compra. Vimos que as diversas prestações efetuadas por ocasião de um
casamento referem·se a um volume de riquezas consideráveis, às quais
é preciso acrescentar o das "dívidas" que decorrem eventualmente dos
incidentes da vida conjugal. Em uma família que tenha vários filhos,
uma parte importante do patrimônio terá sido já transferida para os
mayu ni por ocasião do casamento dos mais velhos, antes que o caçula
chegue à idade conjugal. O fato do direito preferencial do caçula à he·
rança ser assim conseqüência dos aspectos econômicos deste tipo de
casamento ressalta de maneira perfeitamente clara de várias passagens
de Head referentes aos Haka Chin. É o filho mais moço que outrora
herdava o hmunpi ou casa familiar, e o mais velho sucedia a ele se
morresse sem descendente. Mas, "no caso em que haja cinco irmãos, e
quando o mais velho é casado e vive em sua própria casa e os outros
três, embora solteiros, habitam o hmanpi com seu irmão caçula, se
este morre é o quarto que herda o hmunpi. O irmão mais velho casando·
se e abandonando o hmunpi perdeu todos os seus direitos". No caso de


  1. Cf. capo XX.

  2. Gilhodes, op. cit., p. 194.

  3. ("Errar of the literature", afirma Leach a este respeito (196, p. 78, nota 3).
    Mas, mesmo levando o número de termos de referência a 18, o sistema continua
    muito pobre. Quanto à objeção de que os "termos de denominação" são na ver-
    dade nomes próprios, não posso fazer outra coisa senão remeter o leitor ao meu
    livro La Pensée sauvage (962), onde vários capítulos são dedicados a discutir as
    implicações teóricas da noção de "nome próprio". De toda maneira, é evidente que
    uma sociedade que só dispusesse de 9 nomes próprios para cada sexo (Leach, loco cit.)
    teria a respeito do nome próprio uma idéia inteiramente incompaUvvel com a dos
    gramáticos, e esses "nomes próprios", ainda mais claramente que os nossos, seriam
    equiparáveis a termos classificatórios).


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