fatos e o excelente comentário que Fêng propôs para eles parecem sugerir
uma concepção inteiramente diferente da relação entre os dois sistemas.
O sistema do luto, observa, funda·se na distinção clânica (próximos
internos e próximos externos), e na diferenciação dos graus de parentesco.
A obrigação de luto pelos parentes clãnicos (internos) desaparece depois
da quarta linhagem colateral e depois da quarta geração ascendente ou
descendente contada a partir do indivíduo. "Há, por conseguinte, no
sistema de parentesco uma acentuada distinção entre as quatro primeiras
linhagens colaterais e uma confusão de todos os colaterais mais afasta·
dos na mesma relação de parentesco, a saber, tsu".·" Correspondendo
a estas cinco distinções. encontramos cinco "graus de luto": três anos,
um ano, nove meses, cinco meses e três meses. Mais exatamente, existe
uma unidade de luto que é de um ano, sendo os períodos mais longos
um "luto aumentado", e os períodos mais curtos um "luto diminuído".
O luto começa a partir dos parentes mais próximos, que recebem três
ch'i, ou unidades. O luto de base, pelo pai, é de um ano, pelo avô, de
nove meses, pelo bisavô, de cinco meses e pelo trisavô de três meses.
Em ordem descendente temos: um ano pelo filho, nove meses pelo neto,
cinco meses pelo bisneto e três meses pelo filho deste último. O luto
do irmão dura um ano, o do filho do irmão do pai, nove meses, o do
filho do filho do irmão do pai do pai, cinco meses, e o do filho do
filho do filho do irmão do pai do pai do pai, três meses. A estas três
hierarquias decrescentes correspondem os termos shang shai (decrésci·
mo ascendente), hsia shai (decréscimo descendente) e p'ang shai (de-
créscimo horizontal). Todos os parentes não-clãnlcos, qualquer que seja
o grau de proximidade, recebem três meses, com eventual acréscimo
(cinco meses para a irmã da mãe, e três meses somente para o irmão
da mãe).
Este sistema apresenta dois traços notáveis. Transforma diferenças
qualitativas de formas de parentesco em diferenças quantitativas de grau
do luto, e para proceder assim reduz a um denominador comum graus
de afastamento que se exprimem ora na ordem das geraçôes ora na
ordem das linhagens colaterais. A estreita correspondência que existe a
este respeito entre o sistema do luto e o sistema do parentesco torna-se
manifesta pela comparação dos diagramas que tomamos de Fêng" (Fi-
guras 59-60), Dos dois diagramas é evidentemente o primeiro que oferece
a imagem mais racional e satisfatória. :.;: portanto no sistema do luto que
se deve procurar a razão da aparência lógica do sistema de parentesco.
Fêng compreendeu perfeitamente o fato. ":';: possível que tenham
existido no tempo dos Chou graus de luto mais Simples, mas a elaboração
deles começou somente nas mãos dos confucionistas. Empregando a família
e o clã como bases de sua estrutura ideológica, os letrados elaboraram
o sistema do luto com o fim de manter a solidariedade clânica. Ao longo
deste trabalho de elaboração do sistema do luto foi ];!reciso "estandar-
dlzar" sua base, o sistema de parentesco, porque os ritos de luto cuida-
dosamente padronizados exigem uma nomenclatura de parentesco alta-
mente diferenciada, sob pela de provocar a mais deplorável incoerência". "
- Fêng, op. cit.
- Diagramas III e IV (p. 166 e 182) de Fêng, op. cito
- Ibidem, p. 181.
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