Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

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China de Confúcio. Finalmente, no meio, temos o sistema chinês, cujos
traços antigos lembram a troca restrita, mal recobrindo vestigios in-
discutíveis de troca generalizada (Figura 74). Se interpretarmos esta

Troca generalizada

distribuição em termos difusionistas, sugere que, da Sibéria oriental à
Birmânia, a troca generalizada deve ter representado a forma mais arcaica,
e a troca restrita, aparecida posteriormente, não chegou ainda a atingir
as posições periféricas.

Contudo, a concepção difusionista da distribuição asiática dos siste·
mas de parentesco está antecipadamente condenada ao malogro. A cul·
tura chinésà pré-histórica pode ter encontrado seus primeiros represen·
tantes na China do Norte. Culturalmente, entretanto, os chineses são
meridionais," e se é verdade que a civilização Shang desenvolveu·se no
nordeste da China é na vizinhança de sua antiga área de expansão que
encontramos hoje o sistema que parece ter melhor preservado certos
caracteres comprovados pelos primeiros cronistas. Indicamos que, segundo
eles, a regra da exogamia Shang terminava depois da quinta geração. Ora,
o mesmo acontece hoje entre os Mandchu. Em caso de necessidade o clã
exogâmico é subdividido em dois mOkun, que se tornam novas unidades
exogâmicas. "Para permitir este desdobramento basta determinar dois
grupos do mesmo clã, cujos membros têm antepassadOS diferentes na
quinta classe de geração em linha ascendente, e constitui·los em dois gru·
pos exógamos, com espiritos, ritos e xamãs diferentes. Mas a operação
exige a autorização da assembléia do clã, que só entra em ação depois
de longa discussão." Encontra·se um sistema semelhante entre os Yakuto,
que se distribuem em clãs (aga·usaj, subdivididos em nasleg e em ulu, e
entre os quais a regra da exogamia clânica é suspensa depois da nona
geração.'" A mesma fórmula é encontrada entre os Kazake, divididos em
uru, grupos patrilineares, e aul, grupos patrilocais, e onde o limite da
exogamia do uru é fixado na sétima geração. ", Finalmente, os Buriata


  1. H. Maspero, La Chine antique. op. cit., p. 19-21.

  2. Shirokogoroff. op. cit., p. 66.

  3. M. A. Czaplicka, Aboriginal Siberia, op. clt., p. 55-56. Hudson, Kazak Social
    Structure, op. cit., p. 98.

  4. Hudsan, Kazak Social Structure, p. 43.


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