CAPITULO XXV
Clãs e Castas
Em sua tentativa de reconstrução Held apóia-se em três argumentos: a
maioria dos sistemas indianos distinguem dois tipos de primos cruzados,
manifestando marcada preferência pela prima cruzada matrilateral; cer-
tos grupos preconizam o casamento com a filha do irmão da mãe, ao
mesmo tempo que proíbem o casamento no clã materno; finalmente, a
estrutura social da índia sugere uma organização bilateral, fundada sobre
o reconhecimento da filiação matrilinear e da filiação patrilinear. O ca-
pítulo seguinte será consagrado ao casamento matrilateral na índia. Co-
meçaremos, portanto, pelo exame dos dois outros pontos que levantam
problemas de. interesse não apenas local mas teórico.
A idéia; dE, que "existe na índia um sistema patrilinear misturado a
um sistema: matrilinear latente'" foi brilhantemente confirmada no que
diz respeito. itos Toda.' Esta sociedade compreende duas grandes divi-
sões endogâmicas, cada uma delas subdividida em mod exogãmicos e pa-
trilineares. Existe uma segunda subdivisão em polioil, que são grupos exo-
gâmicos e matrilineares. "Este sistema de relações em linha feminina se
combina com a divisão em mod e distribui os Toda em cinco grupos
palioil exogâmicos e os Tuvil em seis... Um homem não pOde casar-se
nem ter relações sexuais com uma mulher que seja sua parenta, ou com·
pletamente em linha masculina ou completamente em linha feminina".'
O casamento dos primos cruzados é conseqüência desta organização com-
plexa. Rivers, portanto, enganou-se quando julgou revelar aos Toda que
o polioil abrangia todos os membros do clã (modJ, dividindo-se Os parentes
em membros do mesmo mad e membros do mesmo palioil. Quem estava
errado era Rivers e não os indígenas. ~
Os clãs matrilineares têm por função regular os casamentos e as
obrigações de luto. Os clãs patrilineares governam a escolha dos nomes,
as regras da herança e também as do casamento.' De maneira geral,
Emeneau considera que a !ndia do sul caracteriza-se por uma exogamia
de clã patrilinear, com proibições na linha materna, que variam segundo
- G. J. Held, p. 53.
- Cf. capo VIII.
- M. B. Emeneau, Toda Marriage Regulations and Taboos. American Anthropolo-
gisl, voI. 39, 1937, p_ 104. - Ver, entretanto, Rivers, The Marriage of Cousins in India. Journal 01 lhe
Royal Asialic Sociely, 1907, p. 622, onde já se pressente uma 0':ltra. interpretação. - Emeneau, Language and Social Forms; A Study of Toda Kmshlp Terms and
Dual Descent, em Language, Culture and Personality (Sapir Memorial VOlume), 1941,
p. 169.
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