I
dava também de mamar a seu marido-bebê ... e neste caso, o pequeno
marido tomava com satisfação o seio de sua mulher. Quando pedi que
me explicassem o comportamento da mulher, o Chukchee respondeu: Quem
sabe? Talvez seja um meio mágico para assegurar o futuro amor de seu
jovem marido". É certo, em todo caso, que estas uniões na aparência
inconcebíveis são compatíveis com um folclore de exaltado romantismo,
cheio de paixões súbitas, de Principes Encantados e de Belas Adormecidas
no Bosque, de belezas ciumentas e de amores triunfantes. 18 Conhecem-se
fatos análogos nâ América do Sul."
Por inusitados que possam parecer, estes exemplos não são únicos,
e o incesto à maneira egípcia constitui provavelmente apenas o limite deles.
Encontramos casos análogos entre os Arapeshe da Nova Guiné, onde os
noivados infantis são freqUentes, crescendo as duas crianças como irmão
e irmã. Mas desta vez é em favor do marido que se estabelece a dife-
rença de idade. "Um rapaz Arapesh educa sua mulher. De acordo com
o hábito do pai funda seu direito não sobre o fato de ter dado nasci-
mento ao filho, mas sobre o fato de havê-lo alimentado. Igualmente, o
marido Arapesh exige de sua mulher atenções de devotamento, não in-
vocando o preço que pagou por ela, ou seu direito de proprietário, mas
em virtude da alimentação que lhe forneceu durante seu crescimento e
que se tornou o osso e a carne de seu corpo". Ainda aqui, este tipo de re-
lações, na aparênCia anormais, fornece o modelo psicológico do casamento
regular. "ToC\a organização social funda-se na analogia estabelecida entre
Os filhos e Ps esposas, que são considerados como um grupo mais jovem,
menos respoÍ).sável do que a sociedade masculina, e que por conseguinte
é necessário'·dirigir. Por definição, as mulheres entram nesta categoria
infantil. .. com relação a todos os homens, mais velhos do que elas, do
clã onde devem casar-se" .. 0
De maneira semelhante, entre os Taplrapé do Brasil central, os fenô-
menos de depopulação generalizaram um sistema de casamento com me-
ninas. O "marido" vive na casa de seus sogros e a mãe da "mulher" asse-
gura os trabalhos femininos." O marido Mohave carrega nos ombros a
menina com quem se casou, ocupa-se com os cuidados domésticos e, de
maneira mais geral, atua simultaneamente como marido e in loco parentis.
Os Mohave comentam a situação com cinismo, e perguntam, às vezes
mesmo na presença do interessado, se o homem não teria se casado com
sua própria filha. "Quem é que carregas nas tuas costas? perguntam. Será
tua filha? Quando os casamentos deste tipo se desfazem, não é raro que
o marido tenha um ataque de loucura"."
Nós próprio assistimos, entre os Tupi-Kawahibe do Alto Madeira, no
Brasil central, às núpcias de um homem de cerca de trinta anos com
uma criancinha de dois anos, que a mãe carregava ainda nos braços. Nada
mais comovente do que a emoção com a qual o futuro marido seguia os
- Bogoras. The Chukchee, op. cit., p. 578-583.
- P. A. Means, Ancient Civilizations 01 the Andes, Nova Iorque 1931, p. 360.
- Mead, Sex and Temperament in Three Primitive Societies, op. cit., p. 8()..81.
- Ch. Wagley, The Effects of Depopulation upon Social Organization as Illustra-
ted by the Tapirape IncUans. Transactions 01 the New York Academy 01 Sciences,
ser. 2, voI. 3, 1940. - G. Devereux, The Social and Cultural Implications of Incest among the Mohave
IncUans, Psychoanalytic (Juarterly, voI. 8, 1939, p. 519.
528