Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

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mento de um desses membros, a linhagem do marido é portanto esco-
rada, se assim é posslvel dizer, por dois grupos de genros, os genros di-
retos e os Indiretos, e sua ajuda se dirige a ele, e lhe são retribuldas
por dois grupos de sogros, os sogros próprios e os sogros de seus sogros
Encontraremos, no capítulo XVIII, este tipo de estrutura ligando ca-
da linhagem, em um sistema de trocas orientadas, a seus "genros apro-
ximados" e a seus "genros distantes", de um lado e, de outro, a seus
"sogros próximos" e a seus "sogros afastados"
O interesse da compa-
ração está em mostrar que uma sociedade, cujo estudo evidencia certa-
mente estruturas complexas de parentesco (porque Tikopia não conhece
graus preferidos, sendo ai proibido o casamento dos primos), depende
contudo dos nossos métodos de análise e pode ser definida, ao, menos
de maneira funcional, como uma sociedade de ciclo longo, no sentido
que será dado a este termo no capitulo XXVII Do ponto de vista mais
geral, contentamo-nos em observar aqui que um novo casamento rea-
nima todos os casamentos produzidos em outros momentos e pontos
diferentes da estrutura social, de tal modo que cada conexão apóia-se so-
bre todas as outras e lhes dá, no momento em que se estabelece, uma
renovação de atividade

Finalmente, é preciso notar que "a compensação" (te malai), que
inaugura as trocas matrimoniais, representa uma indenização pela abdu-
ção da nolva_ Mesmo o casamento por captura não contradiz a regra
da reciprocidade, sendo antes um dos meios juridicos posslveis para põ-Ia
em prática. A abdução da noiva exprime de maneira dramática a obri-
gação em que está todo grupo possuidor de moças de cedê-Ias. Torna
manüesta a disponibilidade delas.
Seria, portanto, falso dizer que se trocam ou que se dão presentes,
ao mesmo tempo que se trocam ou se dão mulheres. Porque a própria
mulher não é senão um dos presentes, o presente supremo, entre aqueles
que podem ser obtidos somente em forma de dons reclprocos. A primeira
etapa de nossa análise foi justamente destinada a colocar em relevo este
caráter de bem fundamental representado pela mulher na sociedade pri-
mitiva, e explicar as razões desse fato. Não devemos, portanto, nos es-
pantar ao ver as mulheres compreendidas entre as alocações recipro-
cas, pois têm esse caráter em grau máximo, ao mesmo tempo que ou-
tros bens, materiais e espirituais. Esse caráter sincrético do laço conjugal
e, para além do laço conjugal, e sem dúvida anterior a ele, da aliança,
ressalta bem do protocolo do pedido de casamento entre os bosqulma-
nos da Arrica do Sul. Os pais da moça, solicitados por um intermediá-
rio, respondem: somos pobres, não podemos nos permitir entregar nos-
sa filha. O pretendente visita então sua futura sogra e diz: vim falar
com a senhora; se morrer. eu a enterrarei, se seu marido morrer J eu
o enterrarei. A isso seguem-se imediatamente os presentes." Não se po-
deria exprimir melhor o caráter total, sexual, econômico, juridico e so-
cial, deste conjunto de obrigações reciprocas que é o casamento. Em
Ongtong Java, uma Ilha do arquipélago das Salomão, as trocas cerimo-
niais realizam-se da maneira seguinte (Figura 4):
Seja xl o chefe de grupo de a e de b. a casou-se com c, cujo chefe
de grupo é x2, e b é casado com d, cujo chefe de grupo é x3. Em certa



  1. I. Schapera, The Kholsan People of South Afrlca, Londres 1930, p. 106.


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