Luiz Henrique Mandeta - Um Paciente Chamado Brasil

(Antfer) #1

Eu estava preocupado com dona Ester, e lembro que em uma de nossas
conversas sobre o assunto falei uma frase muito infeliz. Disse que se ela
viesse a adoecer e morrer, teria que ser enterrada em Brasília, porque não
seria possível fazer o translado do corpo até Campo Grande no meio de uma
pandemia. E seu Anselmo, meu sogro, está enterrado lá. Admito que foi uma
frase idiota, pegou mal. Mas era a realidade.
Decidimos então que era melhor levá-la para Campo Grande. O Paulo,
meu filho mais novo, ainda estava morando em São Paulo, mas depois que as
aulas da universidade foram suspensas, foi para Brasília. Então levei minha
sogra para Campo Grande para ficar com o Pedro, meu filho do meio, que
trabalhava na Aeronáutica e ainda não tinha começado a residência em
cirurgia geral. Esse esquema funcionou durante um tempo: Pedro com minha
sogra e eu, Terezinha e Paulo em Brasília. Mas logo o Pedro começou a
trabalhar na Santa Casa, que é um hospital para tratamento de infectados.
Mais uma vez seria arriscado para a minha sogra ficar no mesmo apartamento
que ele. Então pedi para o Paulo ficar em Campo Grande para cuidar da avó.
No final, ficamos eu e Terezinha em Brasília. Ela foi minha companheira
nesse que foi um dos momentos mais delicados da minha vida. Esteve
comigo na minha posse e assim permaneceu até o dia em que me despedi do
ministério.

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