Luiz Henrique Mandeta - Um Paciente Chamado Brasil

(Antfer) #1

presidente. Logicamente o assunto só poderia ser a comunicação da minha
exoneração.
Fui para o Palácio do Planalto com a Gabriella Rocha Nassar, minha
assessora parlamentar, e deixei com ela meu celular, a senha da conta no
Twitter e uma mensagem pronta comentando a demissão. Assim que eu
saísse da sala confirmando o fato, ela poderia publicar a mensagem.
Entrei no gabinete do presidente e, cordialmente, o cumprimentei. Foi uma
conversa rápida. Bolsonaro disse que gostava muito de mim, mas que,
infelizmente, ele teria que fazer a troca. Disse entender meu lado, mas que eu
tinha que entender o dele, que estava preocupado com a economia. Respondi
que tudo bem.
“O senhor me nomeou por prerrogativa sua. O senhor me exonera por
prerrogativa sua também. Está tudo certo.”
Bolsonaro disse então que, se eu quisesse, ele poderia dizer que a demissão
havia sido um pedido meu.
“Não senhor, eu falei que médico não abandona paciente. O senhor exerça
o seu papel de me demitir e tudo bem. Deixo só uns conselhos, se o senhor
permitir. Cuidado com o Rio de Janeiro, a sua cidade. Cuidado com as
compras de equipamentos, cuidado com a China, o senhor precisa recompor a
relação com eles. Isso não é uma gripezinha. Não diminua a importância
dessa pandemia. Esse é um acontecimento que vai marcar uma era. Como foi
a Segunda Guerra Mundial, a quebra da Bolsa de Nova York. Esse período
vai ser destaque dos livros de história e cada um de nós será retratado pelo
papel que desempenhou nesta crise. Cuide do seu governo e da sua
biografia.”
Agradeci ao presidente e ao general Heleno e saí. Cumprimentei todo
mundo e falei para a Gabriela: “Pode tuitar”.

Free download pdf