Clipping Banco Central (2020-10-22)

(Antfer) #1

É hora de falar da dívida?


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
quinta-feira, 22 de outubro de 2020
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Autor: Solange Srour


A dificuldade de administrar o tema é só um dos lados
da crise de confiança


No começo da pandemia, não era preciso recorrerás
incoerências da "teoria monetária moderna" para
encontrar o apoio à visão de que o Brasil poderia
conviver com uma elevada dívida sem grandes
consequências. Segundo essa tese, enquanto a
expectativa da taxa de juros real de equilíbrio fosse
menor do que a projeção de crescimento potencial da
economia, a trajetória esperada para a razão dívida/PIB
seria de queda, mesmo com elevados déficits primários.


O argumento de que o "novo normal" seria de juros
baixos não sobreviveu à realidade de um país em que o
auxílio emergencial só tem no nome o caráter de
urgência. Nas últimas semanas, as sementes de grave
crise de confiança começaram a brotar. O Tesouro vem
tendo problemas para a rolagem dos vencimentos e a
colocação de novos títulos.


Não só os prêmios exigidos pelos investidores para


carregar títulos de médio e longo prazo dispararam, mas
também os títulos de curtíssimo prazo começaram a ser
negociados com deságio no mercado secundário. Como
consequência, os fundos Dl (os mais conservadores)
apresentaram cotas negativas, para apreensão dos
poupadores.

Não é só a incerteza fiscal que gera turbulência. Há
fatores conjunturais - advindos da trajetória de queda
dos juros a 2%- que afetam o mercado de títulos e
trazem perdas para investimentos vistos como livres de
risco".

Fundos de renda fixa de longo prazo, que carregam
estoque elevado de papéis pós-fixados (IFTs), têm tido
uma diminuição de patrimônio relevante. ComSelica2%,
as rentabilidades descontadas das taxas de
administração ficaram pouco atrativas, gerando saques
e queda dos preços dos títulos.

Quando taxas de juros vão a níveis muito baixos, é
normal a mudança nos portfólios dos investidores. Mas
o que difere o Brasil dos demais países com taxas de
juros reais negativas é que os investidores não parecem
dispostos a alongar o prazo das aplicações, mesmo
com altos prêmios. A falta de demanda para os
vencimentos é gritante.

Quem acompanhou o debate sobre apolítica fiscal e a
gestão da dívida pública ao longo das duas últimas
décadas vê o extraordinário aumento e encurtamento do
prazo da dívida como algo perigoso. Em2003, o Brasil
viveu uma crise de dívida. Então havia uma parcela
significativa de dívida cambial, mas a dívida total
correspondia a 60% do PIB, e os juros foram a 26%.

Hoje a dívida é do tamanho do PIB, o país não tem
superávits primários estruturais há mais de uma década,
e o PIB potencial só cai. Sem horizonte de solvência, é
difícil administrar a necessidade de financiamento
público com juros baixos de curto prazo. Mas se os
juros subirem, a dinâmica da dívida piorará mais ainda.
Pode, até, acontecer de nem mais a poupança ser um
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