Entardecer
Em tarde ser aquilo que se é
não é ser tarde para ser inteiro,
não é ser tarde para ser ligeiro,
a ponto de dar tempo de dar pé.
Em tarde ser aquilo que se é
não é a noite ser à luz do dia,
não é a manhã ser na noite fria,
extemporâneo tempo -marcha à ré.
Em tarde ser aquilo que se é
não é o adiamento preguiçoso,
não é o perfeccionismo desditoso
de não viver seu tempo, sua fé.
Em tarde ser aquilo que se é
não é desafiar quem for precoce,
não é tornar mais velho quem não
fosse,
não é desalojar o tempo até.
Em tarde ser aquilo que se é
é não desmantelar o acontecer,
sem pressa e saboroso igual café:
é ser o que se quer entardecer.
“Obraquerefleteamaturidade
literáriadoautor,LiradosSentidos
é leitura que oferece o olhar de
quem enxerga o lado de dentro do
lado de fora do espelho. Ou seja, é
poesia especulativa da melhor
qualidade, que, parafraseando
Clarice Lispector, usada como
epígrafenaterceiraparte,sabefazer
da vida e da linguagem cotidianas
permanentesexceções.”
MarcusViníciusQuiroga
CHC no lançamento de seu livro
Lira dos Sentidos, em Portugal