Exame - Portugal - Edição 439 (2020-11)

(Antfer) #1

Micro



  1. EXAME. NOVEMBRO 2020


G


Olhos no futuro
António Alegre pede aos
governantes medidas consistentes
com a atividade de cada empresa

Geralmente, ficava debaixo da lista tele-
fónica – a das páginas brancas –, e ambas
davam uma altura bastante considerável ao
telefone de casa. A imagem pode parecer
centenária, com alguma razão, mas não foi
assim há tanto tempo que todos recorría-
mos às Páginas Amarelas para descobrir
uma empresa de que precisássemos. Ou
apenas o seu contacto.
Mas o advento da internet significou
também a morte de objetos que, agora,
nos parecem obsoletos, como é o caso das
listas telefónicas. Há, aliás, muitos adultos
que já nem se lembram dos milhares de
páginas que compunham estes diretórios
e que, entretanto, passaram a servir ape-
nas para fazer cartuchos para as saborosas
castanhas, que já deviam estar a encher as
ruas de fumo e cascas estaladiças.
No entanto, vamos, primeiro, aos nú-
meros dos últimos anos: a Páginas Amare-
las, que, no início do século, faturava cerca
de 100 milhões de euros, sofreu significati-
vamente com a mudança rápida do mundo
e do mercado. Em 2013, recorria ao pri-
meiro Processo Especial de Revitalização
(PER), com dívidas acumuladas de mais
de 13 milhões de euros, e via entrar na sua
estrutura acionista a Norshare Investimen-
tos, à época detida em partes iguais por
António Alegre e João Aroso, dois jovens
empresários do Porto que se dedicavam ao
marketing digital. Falhado o primeiro PER,
seguiu-se um segundo, em 2015. Foi nes-
se contexto que o fundo de investimento
Atena comprou 50,5% da empresa, com o
objetivo de reestruturar a operação, man-
tendo o maior número possível de postos
de trabalho e garantindo a solvabilidade da
companhia. No ano seguinte, já João Aroso
tinha abandonado a estrutura da Norshare,


o Atena desfaz-se da sua participação na
Páginas Amarelas, ficando António Alegre
com 100% do capital da empresa.
Aos 33 anos, Alegre é atualmente o
CEO e presidente do conselho de admi-
nistração de uma empresa que se liber-
tou das dívidas, fatura 11 milhões de euros
por ano, tem resultados líquidos positivos,
emprega 130 pessoas e conta com uma
carteira de mais de dez mil clientes. Uma
espécie de fénix renascida, que trocou o
papel pelo digital e que tem sido funda-
mental para algumas pequenas e médias
empresas nacionais.
“É preciso lembrarmo-nos de que o
diretório http://www.pai.pt surge um ano antes
da Google”, começa por recordar à EXA-
ME o CEO da Páginas Amarelas. “Isto de-
monstra que a estratégia para passar do
papel para o digital já existia.” A conversa
ocorre no meio de um estranho silêncio,
na sede da empresa em Lisboa. O escri-

Digamos que
2020 foi um
ano de stop”
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