Exame - Portugal - Edição 439 (2020-11)

(Antfer) #1

Micro



  1. EXAME. NOVEMBRO 2020


E


ntra para o segundo
mandato como presi-
dente do ISQ com a casa
arrumada e com as con-
tas a melhorar de ano
para ano. A pandemia veio trazer novos
desafios, mas foi também uma oportuni-
dade para novos negócios. Pedro Matias
fala ainda dos projetos internacionais em
que o ISQ está envolvido e das ideias que
surgiram na casa e que deram origem a
novas empresas.


É o primeiro não engenheiro a liderar o
ISQ nestes 57 anos de vida da instituição?
Eu sou de Gestão, mas comecei a minha
carreira profissional no Laboratório Naci-
onal de Engenharia Civil (LNEC). Fui para
lá para ajudar a monetizar os projetos que
aí eram desenvolvidos. Fazia-se muita in-
vestigação, mas havia uma grande dificul-
dade em passar esse conhecimento para
o tecido empresarial. Em 2017, tive este
desafio do ISQ que queria ter um posici-
onamento estratégico diferente, passando
a comercializar melhor as ideias que aqui
eram desenvolvidas, mas sempre tendo a
engenharia como suporte.


Como correu o mandato que acabou em
fevereiro?
Conseguimos fazer uma reorganização or-
ganizacional, criando uma estrutura co-
mercial que era praticamente inexisten-
te. E tivemos três anos sempre a crescer
em volume de negócios e EBITDA. Como
não distribuímos lucros, achamos que
era uma boa prática de gestão devolver
parte desses bons resultados aos traba-


lhadores. Nestes dois últimos anos, dis-
tribuímos meio milhão de euros pelos
colaboradores.

Como esta pandemia está a afetar o ISQ?
O ISQ é uma entidade habituada a cená-
rios de risco. Quando fazemos o controlo
de qualidade de satélites e de foguetões,
na Guiana Francesa ou numa plataforma
de exploração de petróleo em alto-mar,
estamos em cenários altamente exigentes
e com risco iminente. Temos procedimen-
tos muito fortes e bem definidos.

Mas perderam trabalho?
Houve diminuição de consumo e nós aca-
bámos também por ter menos trabalho.
Se há pouco tráfego aéreo, as nossas equi-
pas que fiscalizam infraestruturas aero-
portuárias acabam por ter menos serviço.
Mas, devido à pandemia, desenvolvemos
novos produtos e serviços.

Pode dar um exemplo?
O caso das máscaras de proteção. Já eram
produzidas para fins médicos, mas a ne-
cessidade de serem usadas por toda a gente
levou a que outras indústrias, como a do
têxtil, começassem a produzir. Para serem
vendidas, têm de ser testadas e de terem
uma certificação. E, como nós temos la-
boratórios de controlo de qualidade, con-
seguimos criar uma equipa própria para
fazer esses testes de respirabilidade, de
capacidade de filtração, etc. E não só em
Portugal. O CERN [o centro europeu de
pesquisa nuclear] desenvolveu uma más-
cara com características muitos especiais
para os seus funcionários e pediu-nos para

Texto Paulo M. Santos Fotos Marcos Borga


PEDRO MATIAS/Presidente do ISQ


A inovação que nem


a pandemia trava


Com mais de cinco décadas de história, o ISQ faz testes


a foguetões, desenvolve motores para o maior telescópio
do mundo, criou uma cápsula para recolher amostras em Marte


e pôs a funcionar um novo método agrícola, que consome cem
vezes menos água do que a agricultura tradicional

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