Crusoé - Edição 137 (2020-12-11)

(Antfer) #1
Adriano Machado/Crusoé

O voto decisivo de Fux contra o relatório de Gllmar Mendes jogou novo combustível na fogueira das vaidades do STF

A guerra no STF


Com a reviravolta no julgamento sobre a reeleição no Congresso, a corte
volta a ser palco de troca de farpas entre m inistros, intrigas e até ameaças

11.12.

ANDRÉ SPIGARIOL

.... 0:00 / 10 :

e FABIO LEITE


VELOCDO ÁUDIDADE IO

SALVAR

1.25x 1.SOx

Não faz seis meses que uma convulsão política desencadeada pelos atos da
m ilitância bolsonarista contra o Supremo e o Congresso uniu, de forma quase
unânime, os m inistr os do STF em torno do inquér ito inconstitucional aberto para
investigar supostas ofensas e ameaças aos magistrados. O placar de 1 O a 1 e o
discurso de autodefesa presente nos votos proferidos em junho transmitiram a
impressão de que a corte estava pacif icada, após divergências públicas durante
votações importantes em plenário nos últimos anos, como a que revogou a
pr isão após condenação em segunda instância. Desde então, até m inistros que
não se falavam, como Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, voltaram a
conversar e o clima amistoso parecia reinar nos bastidores. Durou pouco.
Logo a presidência do Supremo mudou de mãos e a composição da corte
ganhou uma car a nova, alterando as forças no xadrez político da casa. Bastaram
as primeiras ações do pr esidente Luiz Fux para tentar evitar a implosão da Lava
Jato no Judiciário e as ru idosas reações de Gil mar para que a tensão voltasse a
aumentar. Imaginava-se que ela pudesse baixar com o julgamento sobre a
possibili dade de reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado, mas o voto
decisivo de Fux contra o relatório de Gilmar que rasgava a Constituição para
beneficiar Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre j ogou novo combustível na fogueira e,
desde o último domingo, o clima no Supremo arde.


Nos últimos dias, acusações de traição, intrigas e ameaças de retaliação
mostraram o que se passa na cúpula do Poder Judiciário, cuj a competência
precípua é zelar pela guarda da Constituição. A derrota doeu fundo sobretudo
em Gilmar, relator do caso, que no dia seguinte ao seu infortúnio garantiu aos
colegas que, se soubesse do placar desfavorável à r eeleição de Maia e
Alcolumbre, jamais teria liberado seu parecer na últ ima semana. Enfurecido, o
m inistro então passou a liderar um movimento de represália a Fux, consider ado
por ele um traidor por mudar seu voto de últ ima hora diante da pressão exer cida
pela opinião pública. A imprensa, ' Gilmar espalhou em "off" que a atitude do
pr esidente do STF foi a "gota d'água" e marcava o f im de sua gestão na
pr esidência da corte, que vai até 2022. A propósito, utilizar a imprensa amiga
para atacar desafetos no Supremo é uma ar ma que Gil mar voltará a usar com
mais frequência, conforme apurou Crusoé com auxiliares de m inistros do STF.
"Ele voltará a ser o velho Gilmar", d isse uma fonte do Supr emo. Além dos
petardos lançados em "off' contra Fux, o ministro também teria feito cir cular
entr e j or nalistas par ceiros a versão de que Barroso se comprometera a votar a
favor do seu relatório, mas, ao f im e ao cabo, não honrou a promessa. A
inter locutores, o presidente do TSE o desmentiu peremptor iamente - Bar roso diz
que apenas prometeu avaliar a possibilidade de reeleição "com a mente aberta",
o que nunca significou comprometimento com o voto a favor da eventual
recondução de Maia e Alcolumbr e ao comando da Câmara e do Senado,
respectivamente.
Free download pdf