Esse "eixo" de m inistros que representam interesses polít icos é exatamente
aquele que vem destruindo todos outros avanços no combate à corrupção
obtidos nos últ imos 20 anos. Aliás, foi j ustamente um acordão nacional entre
Rodrigo Maia e Dias Toffoli, então presidentes da Câmara dos Deputados e do
Supremo Tr ibunal Federal, no começo de 2009, com a adesão posterior do
pr ópr io presidente Bolsonaro, que iniciou o paulatino desmonte dos órgãos de
controle e o silenciamento de vozes d iscordantes, como a de Deltan Dallagnol,
por meio de múlt iplos procedimentos , discipli nares contra ele conduzidos por
subalternos da classe política. E esse "eixo" de m inistr os e parlamentares que
apoia agora projetos para destruir a Lei de Impr obidade Administrativa e a Lei de
Lavagem de Dinheiro.
Por fazerem de tudo para satisfazer os interesses poderosos que representam,
esses mesmos ministros e parlamentares apr oveitam-se de uma válida
pr eocupação com a garantia aos acusados do devido processo legal para
disfar çar seu propósito de deixar li vres políticos pegos em indiscutíveis casos de
corr upção. São esses mesmos m inistros que se aliam a garantistas a soldo para
j ustif icar que um acusado de cr ime do colarinho branco fique livre, desfrutando
de um padrão de vida incompatível com seus ganhos lícitos, como se não fosse
perigoso para a sociedade.
E vamos engoli ndo essa ladainha nas manchetes dos jornais, como se realmente
organizações cr iminosas que r oubar am bilhões não só da Petrobras, mas de
obras da Copa, Olimpíadas, do metr ô de São Paulo e Rio de Janeiro, marmitas de
pr esos e merendas de estudantes não fossem tão perigosas quanto traficantes
de entorpecentes. Entr etanto, Fernandinho Beira-Mar está pr eso e os colarinhos
br ancos investigados, acusados e até condenados por corrupção estão no poder
novamente.
Infelizmente, muitos, inclusive na grande impr ensa, movidos também por
inter esses ou ideologias ou simplesmente ingênuos, acreditam que política é
esse festival de absurdos que vemos nos tribunais e no Congresso Nacional. Isso
a que assistimos não é política no sentido verdadeiro da palavra, da conciliação
de interesses legítimos na busca do bem comum. O que temos visto na história
do Brasil são manifestações da impostura e da mentira, e as justificativas de
Gilmar Mendes para trocar o "não" pelo "sim", acompanhadas entusiasticamente
por Toffoli e Lewandowski, não podem ser consider adas apenas interpretação,
mas sim a manifestação mais atual dessa doença congênita à nossa formação
pública: há os que podem, mesmo contra a Constituição, e há os que não podem,
mesmo que com toda a lei a seu favor.
Como disse certa vez Rui Barbosa, há "uma impregnação ta l das consciências
pela mentira, que se acaba por se não discernir a mentira da verdade, que os
contaminados acabam por mentir a si mesmos, e os indenes, ao cabo, muitas
vezes não sabem se estão ou não estão mentindo". Precisamos escapar dessa
cegueira moral ou da conveniência de nossos interesses privados e exer cer clara
e abertamente a crítica às decisões judiciais e aos pr oj etos de lei que
representem a manutenção de um sistema antidemocr ático e não-r epublicano
de apropriação do públi co pelo pr ivado. De outr a for ma, iremos logo ver a
Constituição tornar-se letra morta. 0