Revista Literária Prosa & Versos

(Anita Santana) #1

um para o outro onde é menos violento e
qual ruela é melhor de viver, de peram-
bular, de pular, de correr, de viver à toa,
pois dono não tem.


Mas, voltando a minha jornada pe-
dagógica. Acharia eu, que encontraria
gente. Pedagogos. Pessoas pensantes.
Despreconceituadas. E que me olhariam
melhor que aquele vira lata. Coitado! Não
dei a mínima atenção! Deveria ter coloca-
do-o no colo e conversado com ele sobre
os meus, os seus problemas, minhas e
suas agonias, minhas e suas frustrações
com os humanos tiranos. Acho que tería-
mos estórias parecidas, vencidas, vividas.
Ah! Se arrependimento matasse, estaria
eu lá jogado ao chão, durinho.


Quando cheguei ao meu destino –
a escola - deparei-me com uma pessoa
bem vestida. Atrevida. Metida. Vestido
de cetim talvez. Nem sei. Era vermelho.
Não estava amassado. Bem passado. Até
que caia bem pra o corpo dela, que falava
a língua dos homens. Até Francês. Uma
mistura com japonês. Ou inglês. Olhava-
-me como se eu fosse um latino america-
no qualquer. Ou um Paraguaio cansado
de guerra. Eu não estava sujo. Nem mo-
lhado de lama. Nem cheirava mal. Mas
ela não parava de me olhar. De cima para
baixo. Menos para os meus olhos, que é
donde se tem e se ver: verdade. Hones-
tidade. Sinceridade. Bondade. Compro-
misso, e enxergamos também o verdadei-


ro profissional. Não animal. Pois, nossa
intenção está no reflexo de nossas reti-
nas. Cristalinas. Assim saberás qual o
próximo passo do seu inimigo. Olho no
olho. Logo pensei: passei por muitas coi-
sas na vida. Que vida. Mas nunca fui um
cachorro. Nem um vira lata. Parecia que
o mundo, neste momento, fosse desabar
sobre minha cabeça. Esqueça! Quando
criança achava que as coisas seriam mais
fáceis, as pessoas fossem mais dóceis, e
as olhadas sem palavras fossem menos
drásticas, e que as pessoas fossem mais
humanas.
Coitado! Sentir na pele como é ser
um vira lata de verdade. Se penso? Sim,
sinto. Quero. Imagino. Eu falo a língua
dos homens. Falo também a linguagem
dela. Singela. Talvez um pouco mais re-
buscado. Bem acabado. Um pouco de
Francês. Misturado com japonês. Pare-
cido com o inglês. Derivado do irlandês.
Chegando ao bom português. Ou melhor:
falo o bom português do brasil. Gentil.
Verdadeiro. Receptivo. Honesto. O que eu
detesto é ser tirado. Irado. Então revidei.
No outro dia voltei. Falei. Falei. Tudo que
sei. Tudo que sentir. Tudo que aprendi.
Sou dono do meu nariz. Não lhe peço
nada. Não roubo. Não fumo. Não bebo.
Sou o que sou. Sou o que penso. A minha
existência não é o seu triunfo, portanto,
basta. Afasta-se de mim. Prefiro o meu
vira lata.

Josenilto Andrade Reis Atualmente é professor efetivo de Língua Por-
tuguesa da Secretaria Municipal de Educação de Santo Amaro-Ba e
professor efetivo de Língua Inglesa da Secretaria Municipal de Educa-
ção de Candeias-Ba. Membro do Grupo de Pesquisa Psicolinguística
Perspectivas interdisciplinares (GPLPI/UNEB).
Free download pdf