marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
220 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

vê que as coisas se precipitaram bastante, caíram alguns companheiros
que participaram da operação, inclusive o Virgílio, que foi assassi-
nado barbaramente depois, enfim, desencadeou-se a repressão de
maneira muito mais rápida, mais violenta, como resposta também
ao sequestro. Por um lado ele achou fantástico os presos saírem da
cadeia, tem um manifesto dele muito bonito, você deve conhecer,
um texto saudando...


Edson – Saudação aos 15 patriotas.
Clara – Exatamente. Ele achava que não era aquele o momento,
mas depois que foi feito ele achou que foi muito importante a liber-
tação dos presos do ponto de vista humano, político.


Edson – E essa estratégia de ir para o campo?
Clara – Isso não é de agora. Desde de que ele se definiu pela
resistência direta, frontal, como caminho para enfrentar a ditadura,
ele achava que deveria ter duas formas de luta no Brasil: a luta na
cidade e a luta no campo. Ele sempre definiu isso em todos os textos,
em todos os livros que ele escreveu, achava que você deveria mexer
com a cidade, para ter o apoio dos operários, das universidades, os
profissionais liberais, da classe média, todos que estivessem sendo
atingidos pela repressão e pela ditadura apoiariam a luta, a posição
dele era essa. E no campo porque os camponeses, até aquele momento,
eram praticamente a maioria da população no país, e eram reprimidos,
perseguidos, a luta pela terra era violentamente perseguida, muitos
líderes camponeses foram assassinados logo depois do golpe, antes do
golpe inclusive. Os camponeses eram aliados importantíssimos nessa
luta. Ele sempre teve a visão de que a luta ia se travar na cidade e no
campo, só que, por circunstâncias específicas da luta no Brasil, o mo-
vimento revolucionário tinha que captar recursos na cidade, por isso
que ele achava que o papel da luta na cidade era muito importante.
Mas, antes mesmo do sequestro do embaixador estadunidense, ele

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