marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 221

achava que era preciso diminuir as ações na cidade e começar a fazer
o trabalho no campo, e ele tinha mesmo a ideia de ir para o interior
no dia 9 de novembro de 1969.


Edson – A questão da autocrítica que a senhora faria naquele
momento, naquele exato contexto da opção pela luta armada.
Clara – Eu não posso fazer autocrítica. Não cabe a mim aqui
no caso. Eu sou uma pessoa que acho que é muito complexa uma
análise da luta no Brasil no período da ditadura militar, e os mortos
não fazem autocrítica.


Edson – Como a senhora vê aquela época, naquele momento,
não hoje, havia um canal aberto para a luta armada? Uma coisa é eu
falar hoje de luta armada, a luta era viável, qual sua posição? Havia
condições da revolução se concretizar no Brasil? Naquela conjuntura,
naquele momento.
Clara – Eu acho que os povos, nenhum povo do mundo opta
por caminhos mais difíceis se há os mais fáceis. Isso não existe na
história dos povos do mundo. Se você pega a revolução em todos os
países do mundo, as guerras, você só entra na guerra para responder
ao ataque, como é que se realizaram as grandes guerras do mundo?
Os países que atacaram e os povos que tinham que se defender, e
aí se defendiam com exércitos regulares ou com pequenos grupos
armados, como foi a última grande guerra mundial. O exército dos
países aliados contra o eixo nazifascista, além de exércitos, também
entraram em ação grupos guerrilheiros. Os povos adotam esse ca-
minho não porque escolheram previamente. Você pega os processos
revolucionários de todos os povos do mundo, que fizeram lutas de
libertação, a Revolução Argelina, a Revolução Cubana, ninguém opta,
traça assim no papel “vamos fazer o caminho armado”. Os povos se
organizam para lutar pela sua liberdade, a independência do país.
Ao traçar esses caminhos, os caminhos podem, às vezes, se tornar

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