marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
224 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

com todas as armas na mão, desde quando foi dado o golpe, aliás
bem antes. Por isso que o processo de luta armada foi deflagrado e,
na medida em que foi deflagrado, houve o acirramento, a repressão
cada vez maior, a tortura cada vez maior. E os revolucionários tinham
que resistir. Ninguém fez aquilo por que achava que era bonito, por
se achar o máximo, não é isso. Claro que a opção aí era conscien-
te, acredito, tenho certeza, todas as pessoas que entraram naquele
processo, a maioria não entrou nisso por brincadeira, por aventura.
Você tinha consciência de que não havia outro caminho para poder
se contrapor aquele quadro deflagrado no Brasil com aquele grau de
violência. E aí vieram todas as outras questões que você já conhece.


Edson – Como foi o último dia, o 4 de novembro de 1969, que
a senhora teve contato com ele?
Clara – Mais já está dito lá.


Edson – A questão é que o cerco estava fechado demais, e por
que Marighella não preservou a ele e se preocupou com as pessoas
em torno dele. Ele queria preservar os padres. Isso era uma caracte-
rística da personalidade dele, mas ele em nenhum momento pensou
nele, em sair um pouco, porque ele se expunha de uma forma...
Clara – Se expunha mesmo.


Edson – Não estou fazendo isso para desmerecê-lo, pelo contrário,
a gente tem que avaliar isso por um outro lado, ele se preocupava mais
com as outras pessoas do que com ele. Isso chama a atenção porque
no dia da morte ele teve uma reunião, teria um ponto com os padres,
ele já sabia, tinha algumas noções do que vinha acontecendo, eu fico
pensando o que o levou a pensar mais nos outros. Mas, retornando,
qual foi o impacto da morte de Carlos Marighella para a senhora?
Clara – É muito difícil responder essas coisas porque ele realmente
se preocupava mais com os outros do que com ele, se fosse o contrá-

Free download pdf