marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 225

rio ele tinha saído da cidade muito tempo antes. Ele era incapaz de
fazer isso. Marighella nunca abandonou os companheiros na luta. Ele
achava que tinha que estar junto, na frente, tinha que dar o exemplo
mesmo, já que ele propunha uma luta que exigia tanto sacrifício das
pessoas, fazia parte da visão da luta dele esse sacrifício, tanto que
numa entrevista que ele deu em setembro, depois do sequestro do
embaixador estadunidense, um jornalista belga, o jornalista pergun-
ta se ele achava que podia morrer, ser assassinado. Ele respondeu
tranquilamente ali, que isso podia acontecer e se ele morresse outras
pessoas o substituiriam; isso ele disse na entrevista em setembro de



  1. Não é que dentro dele não existisse a compreensão, ele podia
    ser assassinado a qualquer momento, ser preso, torturado, ou morto,
    morto porque eu acho que ele não se entregaria jamais.


Edson – Ele tinha essa determinação?
Clara – De todas as experiências que ele já tinha passado, Ma-
righella foi um homem que ao longo da trajetória revolucionária
sempre foi muito torturado, muito machucado, sempre teve um
comportamento heroico, não abriu a boca, era uma decisão. Dessa vez
ele sabia que se fosse pego vivo seria morto na tortura, a decisão dele
era não se deixar prender. As circunstâncias é que levaram a morte a
ser daquele jeito, uma emboscada. É claro que ele estava muito pre-
ocupado. Nos últimos dias a pressão era muito maior, ele sabia que
estavam caindo companheiros, ele estava muito mais preocupado.
Mas você vê que as preocupações dele não chegaram ao ponto de
interromper os contatos. Ele cobria os pontos. Se é verdade, se ele
sabia que haviam sido presos padres lá no Rio, segundo relato das
pessoas que estiveram com ele no fim do dia e ele foi assim mesmo se
encontrar, é uma decisão como quem diz eu vou, quem sabe eu posso
ajudar em alguma coisa, vou ver se a gente facilita a vida deles ou de
outros para impedir que fossem atingidos, sempre a preocupação de
impedir que as outras pessoas fossem atingidas pela repressão, tentou

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