marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
238 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Ele disse: “Olha! não valia a pena, nós éramos minoria para criar
uma briga, acho que não era a ocasião, de uma atitude que pudesse
dividir – nunca me esqueço disso – eu não quero dividir nada, quero
somar, acrescentar, somar, unir”.
Esse negócio da unidade de Marighella me influenciou até hoje.
Essa influência que ele podia exercer, mas não exercia. Eu quero lhe
contar uma pequena história de Marighella que me impressionou,
que está relacionada ao problema do “Não tive tempo de ter medo”.


Edson – Eu gostaria que a senhora falasse sobre isso.
Ana – Eu dizia que estava com medo, ele dizia: “É aquela frase
que eu disse sempre a vocês, eu nunca tive tempo de ter medo, porque
se eu tivesse medo não tinha estado na prisão, se eu tivesse medo não
continuava na luta, então, é melhor que na vida não se tenha tempo
de ter medo”.
Foi nessa ocasião que eu ouvi pela primeira vez essa frase dele,
eu disse que ficava com medo de enfrentar essa maioria aqui no Par-
tido, ele disse: “Imagina, nós temos que ter medo de outras coisas,
da polícia, da repressão, você acha que a gente tem de ter medo de
companheiros?” Tanto que eu achei que não era justo, na ocasião.


Edson – Ele disse isso quando para a senhora?
Ana – Numa ocasião em que houve uma reunião em São Paulo,
no fim da década de 1950. Agora também a preocupação que ele
tinha com os problemas dos outros...


Edson – Como que se dava a relação dele com vocês que esta-
vam mais próximos da militância política, como era essa relação no
cotidiano, em termos de brincadeiras, o homem comum Marighella?
Ana – O homem comum Marighella era justamente isso, ele
era aquela coisa que chegava na minha casa e sempre dizia: “Eu vim
colocar um problema”.

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