marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 237

problemas. Por incrível que pareça ele sabia do amor que eu tinha
pelas crianças, do amor por Carlinhos e tudo isso, ele disse que eu
não tinha direito de não sair do Brasil, porque eu tinha que cuidar
dos meus filhos: “Você não pode ter o direito de ficar aqui, você pode
prejudicar seus filhos, a criação”.
Ele tinha uma capacidade de comunicação nos comícios extra-
ordinária.


Edson – Como ele era nesses discursos, ele se preparava?
Ana – Não era nada preparado, nada preparado, claro, ele não
se afastava dos princípios do socialismo, da defesa da unidade dos
trabalhadores do campo e da cidade, da defesa de um instrumento
que era o Partido Comunista, ele não se afastava desses princípios
básicos e práticos, ele não se preparava, ao contrário, a gente viajava
pra cima e pra baixo, para esses subúrbios e nunca vi assim ele se
preparar anteriormente. Ele era uma pessoa como outra qualquer,
normal, o problema era o seguinte: era uma pessoa de que todo
mundo gostava dele.


Edson – Por que todo mundo gostava dele?
Ana – Talvez por essa comunicação social e por não ter essa
empáfia de personalidade. Apesar do valor que ele tinha, apesar da
capacidade de comunicação, de levar à prática, ele não dava a aparecer
isso, uma pessoa como outra qualquer.
Uma vez eu censurei Marighella. Houve uma reunião no Partido
Comunista, em São Paulo, as pessoas se preparavam para fazer um pou-
co de referências ao Luiz Carlos Prestes, eu estava louca que ele fizesse
essas críticas, não sei se você conhece meu artigo sobre o Prestes, na
minha opinião foi o guerrilheiro número um da América Latina, mas
ele não fez, mas aí eu disse: “Olha! Ô Mariga” – chamava ele, naquele
tempo, de Mariga – “ô mulato, você não fez a crítica que devia fazer a
Prestes por essa personalidade dele, de trazer as coisas arrumadas, feitas”.

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