marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
280 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Ângela Sampaio, ela diz assim: “conheci o Geraldo, em 1964, numa
casa da Penha, para onde tínhamos nos mudado há pouco tempo.
Aquela casa era para dar cobertura à Comissão Executiva do Comitê
Central. Três pessoas ali sobressaiam naquele grupo de pessoas mais
velhas, o Geraldo, Jaime Miranda e o Marighella. Eram os brinca-
lhões, sempre arrumavam um jeito para não ficar naquela coisa da
clandestinidade”. Então, como que eram essas brincadeiras, que tipo
de descontração rolava entre vocês?
Geraldo – Vou te dar um exemplo: o Marighella era um cara que
gostava de futebol, acompanhava time de futebol e nós brincávamos
muito, principalmente eu e ele, principalmente depois do golpe que
nós ficamos mais juntos, e às vezes a reunião levava dois, três dias.
A gente tinha uma convivência maior. Então, tem uma brincadeira
que ele fazia muito. Ele dizia: “Olha! O melhor negócio é a gente
montar um terreiro de macumba, você vai ser o babalaô (risos) e nós
vamos faturar”. Quer dizer, vamos deixar esse troço aí que não leva
a nada (risos). Era brincadeira desse tipo, entendeu? Conversa desse
tipo assim, muito gostosa, ainda mais numa época daquela, sempre
tenso, ameaçado de morrer a qualquer momento, junto com ele o
tempo passava que era uma beleza.
Além disso, ele era um cara – eu já disse isso no livro – pela
primeira vez, eu vi um dirigente do partido chegar, no fim do ano,
e perguntar quantos filhos eu tinha. Eu tinha um casal de filhos. E
ele: “Eu estou com uma quantidade de brinquedos aqui, escolhe dois
brinquedos, leva uma boneca para sua filha”. O normal era isso não
ocorrer nos dirigentes do partido. Também em véspera de festa, de
carnaval, pela nossa teoria materialista, havia uma compreensão de
que não se dava bola para essa questão de natal, uma brutalidade.
Ele não! Ele não só deu pra eu levar para minha filha, mas também
companheiros que estavam fora, em tarefas fora, ele pediu para levar
presentes para os filhos desses companheiros, na casa deles, isso lá
em São Paulo.

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