marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 281

Edson – Ele sofreu alguma repreensão por causa desse ato?
Geraldo – Não, porque ninguém tinha o topete para poder res-
ponder ao Marighella.


Edson – Por que isso?
Geraldo – Porque o Marighella era um nome do partido. Um
quadro que veio para o movimento muito cedo, muito jovem, ainda
estudante, foi preso, torturado, se portou bem, manteve a moral.
Quando as qualidades de um bom dirigente naquela época era manter
um bom comportamento na polícia, nas mãos da repressão. E ele é um
dos que tiveram, antes de 1964, lá por volta de 1940, 1935, por aí. E
ele se comportou muito bem e ainda escreveu um livro logo depois
do golpe militar, explicando como o cidadão deveria se comportar
diante da repressão, se fosse preso. Eu não tenho esse livro por uma
razão fácil de lhe dar, com o golpe eu perdi tudo. Eu acho que minha
mulher fez bem, tocou fogo em tudo. Tudo que eu tinha em casa,
eu não estava em casa, mas acho que ela fez bem. O medo ajudou,
o medo também ajuda, porque aconteceu o mesmo com o Prestes
e a mulher dele não fez o que ela havia feito e aconteceu o episódio
das cadernetas do Prestes (risos). Dois meses depois do golpe, apare-
ceram as cadernetas do Prestes, e que eu peguei dez anos de cadeia,
fui um dos mais condenados, embora hierarquicamente tinha gente
mais qualificada do que eu (risos) na caderneta que pegaram menos
tempo de prisão, muitos nem foram presos. Eu fui condenado à
revelia. Não compareci ao julgamento, mas a condenação foi de dez
anos, se eu fosse preso ia tirar dez anos. O julgamento foi feito pelo
Supremo Tribunal Militar, em São Paulo, se te interessar eu posso
mandar pra você.


Edson – Como o Marighella se comportava nas reuniões?
Geraldo – Bom. Antes do golpe militar ele era um companheiro
(emocionado)... Ouvir, ele sempre ouvia muito. Marighella era homem

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