marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 283

compreendida também por nós, alguns aliados que faziam parte
das Forças Armadas, militares que eram progressistas, que estavam
integrados nas Forças Armadas, não tiveram condições de fazer nada,
como o brigadeiro Teixeira, por exemplo, que comandava uma zona
aérea aqui no Estado do Rio. Então, nós fomos pegos de surpresa.
Isso aí influi muito, a meu ver, no Marighella. Influiu em muitas
pessoas, mas no Marighella eu nem esperava. Ele era um homem
muito tranquilo e muito realista, com muita compreensão da reali-
dade. De repente, ele muda esse comportamento e passa a defender
a luta armada, numa situação onde nós não tínhamos condições de
fazer aquilo ali, porque a correlação de forças não nos era favorável.
Nós não tínhamos nos preparado para isso e muito menos preparado
o povo para a luta armada. Então, nós tínhamos que nos resguardar,
como fizemos, tentar nos resguardar para não sofrer mais prejuízo,
mais baixas, prisões e assassinatos etc.; e ao mesmo tempo procurar
fazer com que acumulasse as condições políticas para que, com a
participação do povo e de outras forças aliadas, pudéssemos virar
o quadro político. À medida que houvesse intervenção do povo no
processo político, o que demorou muito tempo, levou uns seis meses
para que houvesse as primeiras ações de massa com estudantes, aquele
negócio lá do Calabouço, começaram a surgir greves em São Paulo,
movimentos no campo. As forças políticas começaram a se abrir, mas o
Marighella já tinha outros compromissos nessa altura do campeonato.
Ele esteve em Cuba, na Olas, e lá ele assumiu compromisso com os
cubanos de fazer a revolução aqui no Brasil.


Edson – Ele chegou a ter contato direto com você nessa época?
Geraldo – Chegou.

Edson – O que ele dizia?
Geraldo – Ele dizia que não ficaria atuando nos moldes con-
vencionais do partido e que ele estava querendo dar uma virada no

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