marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
284 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

panorama político brasileiro e que isso só com a luta armada. Ele
estava convencido que era por aí para fazer a revolução. Eu até fui na
reunião, que ele se desligou do Comitê Central do partido, represen-
tando a direção oficial. Eu e mais dois companheiros, um chama-se
Teodoro Melo, que está vivo ainda, e o outro Antônio Chamorro,
que já morreu. Essa reunião foi em São Paulo. Nessa reunião, todos
os delegados estavam ganhos por ele. As intervenções eram só numa
linha, nos chamavam de oportunistas, que não queríamos nada e por
aí afora. Ele fez contato comigo, chorou, nós nos abraçamos, nos
despedimos. Eu falei contra a opinião dele na reunião, o que foi chato
pra burro, mostrando que aquele não era o caminho, que o caminho
tinha que ser de acumulação de forças, um caminho que as massas
participassem, isoladamente nós não íamos conseguir nada, nós não
tínhamos nos preparado, não tínhamos condições para um troço dessa
envergadura. E, infelizmente, a vida provou que nós estávamos certos.


Edson – Qual foi a reação que ele teve depois das suas palavras?
Geraldo – Ele disse: “À ficar na política que nós estávamos – foi
a última palavra dele comigo – ele preferia vender gravata pelo país
afora” (risos). Nunca me esqueço disso. Então, terminou a reunião,
nos abraçamos, ele chorou, eu também chorei um pouco. Eu falei
que um dia nós nos encontraríamos, mas, infelizmente, nós não nos
encontramos mais.


Edson – No seu livro, você menciona, rapidamente, que era co-
mum ele estar presente nos bares, com os amigos, conversando com
as pessoas. Você tem um exemplo concreto disso.
Geraldo – Eu não gosto de falar muito do Marighella porque e
dá uma emoção, mas tudo bem. O Marighella, uma vez, quando a
Itália foi campeã, foi depois do golpe militar. Eu sei que eu estava
com ele numa casa lá em Botafogo, já tinha se realizado o golpe mi-
litar. Então, nós estávamos assistindo um jogo, se não me engano era

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