marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
296 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Carlos – Não. Com o Marighella não.

Edson – Você teve um contato com ele mais nos pontos?
Carlos – É. Nos apartamentos, nos aparelhos.

Edson – Dessa proximidade dele com vocês – já com um certo
nível de leitura – o que significa o Marighella para vocês, o que aca-
baria trazendo vocês para a luta armada. Essencialmente, o que mais
marcou? Para sermos concretos.
Carlos – Isso, uma liderança capaz de juntar todos aqueles seg-
mentos, aquelas organizações dispostas a combater a ditadura e tentar
formar um governo popular e democrático no país. A figura de um
líder com esse peso específico e que nos ganhou por estar ali, no fogo,
no comando direto, na luta, e depois, pelas suas posições políticas.


Edson – Em algum momento do seu contato com ele, essen-
cialmente esse contato tinha um peso político maior, mas em algum
momento você teria um exemplo concreto, um gesto em que Mari-
ghella demonstra o seu lado humano, o seu caráter, sua personalidade?
Carlos – O Mariga sempre era uma pessoa assim, por exemplo:
nesse papo que estou levando contigo, ele sempre já tinha entremeado
esse papo com alguma brincadeira, alguma coisa superinteligente.
Ele era uma pessoa muito criativa, com uma agilidade mental muito
grande e esse carisma que eu falei, era extremamente carismático.


Edson – Que tipo de descontração, por exemplo?
Carlos – É meio difícil. Eu tenho uma memória muito ruim.
Eu me lembro que houve o fato, lembrar palavras, eu sou péssimo
nesse aspecto. Mas era uma coisa muito marcante, nós nos sentíamos
à vontade. O Marighella conseguia – desse papo do cotidiano, não
mais político – quebrar a tensão que a gente vivia naquele momento.
A gente circulava horas e horas de carro conversando.

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