EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 295
des com as ações, política e militar mutuamente, as nossas conversas
giravam em torno disso. O aspecto interessante é este: o Marighella
ia para os lugares mais arriscados, nós estávamos num aparelho que
não tinha saída nenhuma, se chegasse à polícia ali estava...
Edson – Onde, por exemplo?
Carlos – No Flamengo. Ele fazia questão, fez questão de ir lá mais
de uma vez nos visitar para transmitir solidariedade, uma segurança,
uma tranquilidade que só as pessoas que têm uma índole muito boa
fazem um negócio desse. Num momento de cerco, ele fazia questão,
até contra nossa vontade, de dar assistência, de passar esse calor hu-
mano, uma coisa superimportante, além dele estar ali correndo riscos
na prática, coisa que ele já fazia antes, fazia questão de levar esse calor
humano para as pessoas, conversar.
Edson – Ele esclarecia vocês sobre os perigos da luta armada, que
vocês poderiam morrer?
Carlos – Sobre esse aspecto ele falava muito, mas era um otimista,
uma pessoa de visão otimista das coisas. E ele era crítico também, por
exemplo, foi contra o sequestro do embaixador estadunidense, ele
sabia que ia trazer uma repressão muito grande e nós não tínhamos
condições. Ele estava tentando voltar todo esforço dele para o chama-
do desenvolvimento da guerrilha rural, para desenvolver a guerrilha
rural no país. Todas as nossas ações, expropriação de bancos, eram
para isso. Politicamente também era uma maneira de manter a nossa
independência; sobre o treinamento em Cuba ele dizia: “eles tem a
experiência militar, nós não temos condições de fazer um treinamento
efetivo aqui no Brasil e os estadosunidenses não estão aí, instruindo
os caras de todo o jeito aí?”. Os estadosunidenses estavam mandando
no país, o que é pior e o Marighella não aceitava essa intervenção.
Edson – Você participou de alguma ação junto com ele?