298 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA
aqui no Rio de Janeiro é uma marca registrada muito forte, porque
o Agrupamento Comunista de São Paulo, o nome já diz, ele veio de
um racha do partidão, fundamentalmente, depois veio a dissidência,
que era um racha do partidão. Aqui no Rio não. Um grupo antigo
que era pequeno, que era ligado diretamente a ele e ao pessoal jovem,
que era lá do Pedro II, que tinha também um pessoal ligado a ele. O
pessoal lá do Xavier, da Zilda, do Alex, do Yuri, que eram secunda-
ristas, escola técnica. O Alex era do Pedro II, até o meu irmão entrou
para a organização, por ele, não por mim.
Era a própria visão do Marighella: juntar uma frente a mais ampla
possível, daí ele não se apegava naquelas teorias de que a revolução
tinha que ser socialista, democrática, de libertação etc. Ele procurava
pegar alguma coisa mais abrangente, eram poucas pessoas, em termos
de Brasil, ele tinha que juntar todo mundo.
Edson – Como que era para um jovem de 22 anos ser coman-
dante da ALN? Como era isso na sua cabeça? Em algum momento
você questionava?
Carlos – Nós já falamos aqui no início, mas é bom recordar
isso. Com 14 anos de idade, em 1964, não chegamos a resistir, mas
chegamos a discutir uma possibilidade de haver resistência ao golpe.
Estava disposto a dar a vida com 14 anos para manter o governo cons-
titucional do Jango. Está me entendendo? Como o mundo mudou.
Um Brasil que naquele tempo você tinha pessoas dispostas a isso com
14 anos de idade. Hoje em dia, os políticos só pensam em roubar, a
maioria, se dar bem, usar o país. Era outro planeta se você for parar
para analisar o que nós estamos vivendo hoje. De 14 até 22 anos,
são oito anos de estudos, de lutas, de ações, até chegar aí. O que não
significa que faltasse maturidade. Tanto é que a minha postura ali, eu
sempre levantei isso, nós tínhamos alguns companheiros treinando
em Cuba, havia inclusive uma mistificação muito grande sobre esses
companheiros treinando em Cuba, chamado “primeiro exército”, que