308 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA
Edson – Eu conversei com João Falcão, em Salvador, e ele rapi-
damente – é apenas uma curiosidade – ele disse que Marighella, na
faculdade, teve um amigo que também se formou em Engenharia, de
certa forma, se estabilizou financeiramente e ele ajudava o Marighella.
Você se recorda se houve esse fato?
Jacob – Não, não sei. Veja bem, o Marighella foi de uma geração
um tanto anterior à minha, quer dizer, não há uma diferença de idade,
mas ele cursou o Ginásio da Bahia e a Escola Politécnica uns sete a
oito anos antes de eu ir para o próprio Ginásio da Bahia. Eu só vim
a saber dele quando iniciei a militância no PC, Partido Comunista.
Antes disso não o conhecia, não tinha ouvido falar nele. Eu não te-
nho relações de amizade nem outros aspectos dessa fase. Isso é com
o pessoal lá de Salvador.
Edson – Qual foi seu primeiro contato com Marighella?
Jacob – O primeiro contato, quer dizer, eu vim a saber o nome
dele depois que eu me tornei militante, de 1942 em seguida. Nos
meios da esquerda, o nome dele já era conhecido, um baiano que tinha
ido para o Sul, estava preso, tinha se comportado magnificamente e
estava na Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Acontece que nesse período,
em 1944, eu fui à Itália como soldado da Força Expedicionária. Na
volta, em agosto de 1945, eu fui ao Comitê Central, o partido ainda
ilegal, no Estado Novo. Quando eu retornei o partido era legal. Prestes
anistiado e todos os militantes estavam em liberdade e o Marighella
também tinha sido anistiado e libertado, foi aí que eu o conheci, na
sede do Comitê Nacional, lá na rua da Glória, no Rio de Janeiro.
Edson – Mas você retorna para a Bahia em 1945, Marighella vai
desenvolver a campanha para deputado na Bahia nesse período. Você
teve algum contato com ele?
Jacob – Não. Quando ele fez a campanha, eu fiquei em Salvador
até o segundo semestre de 1946, durante um ano e pouco, e ele foi