EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 337
Edson – Ele tinha algum tipo de brincadeira?
Roberto – Eu não me lembro disso. Eu me lembro que ele era
muito brincalhão, gostava muito de contar caso quando a gente
estava muito tenso, exemplos do que ele tinha passado, ele contava
muitas histórias do Partido Comunista. Na verdade ele ridicularizava
esse pessoal da ditadura, principalmente esse pessoal da repressão, ele
dizia: “Ah! Esses caras não são de nada. Tem que fazer cara feia, ir
para cima”. Nesse dia mesmo, que um carro ficou andando atrás de
mim uns cem metros, todo mundo naquela tensão, mas até ria do que
ele falava: “Olha a cara daquele babaca, que filho da puta, eu quero
sair daqui”. E o cara com uma puta metralhadora, uma C-14, com
dez caras dentro. Ele gostava muito de contar caso, contar piada, na
hora da tensão ele conversava muito com a gente, preparava muito as
pessoas. Ele acreditava muito que o povo fosse dar sustentação para
a gente, mesmo nos últimos momentos, assim que ele podia estar
acreditando, porque a gente se isolou muito, esse livro desse rapaz
mostra bem, que a gente, na verdade, passou só para a ação militar,
não teve mais ação política. O pessoal não acreditava, a dominação,
a divulgação jogou o povo contra a gente, nós éramos vistos com
bandidos. Isso foi deixando o Marighella meio... A gente tenso, e o
Marighella meio... Porque aí a gente misturou tudo, os dominicanos,
que eram da parte da inteligência, começaram a assumir coisas que
não eram para eles fazerem, faziam até transporte para o lugar onde
nós íamos fazer assalto, isso não era para eles, não tinham estrutura
para isso.
Edson – No momento em que o cerco vai se fechando, você teve
algum contato com ele?
Roberto – Eu tive contato com o Marighella uns 20 dias antes
dele morrer. Ele morreu dentro de um carro que estava no meu
nome, num ponto que eu me encontrava com ele, na Alameda Casa
Branca. Aquele carro não era meu, foi comprado no meu nome pelos