marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
336 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

não. Muita gente também foi presa porque fazia uma ação e depois
voltava para ver a merda que tinha feito, ia ver o resultado. Depois
que começou uma puta de uma decadência, é claro, o pessoal ficou
mais com medo. Agora, o Marighella era um cara que de primeira
ele conquistava as pessoas, um cara de puta humanidade, o compa-
nheirismo, a preocupação com as pessoas, com a defesa do Brasil,
com os mais humildes.


Edson – Você tem algum exemplo que demonstre esse lado hu-
mano, esse lado solidário?
Roberto – O Marighella é isso que eu lhe falei. Esse lance que
eu te falei, dele subir lá, aquilo marcou muito para mim, depois eu
quebrei um puta pau com ele por causa da segurança. Sabe o que
ele me falou: “Eu não consegui, vi os operários apanhando!” Ele
arriscou a vida dele e a minha também, quebramos um puta pau,
nesse dia nós conversamos muito feio porque ele contrariou todas as
coisas que ele dizia, que ele prega. Se expôs muito, às quatro horas da
tarde, o cara sobe, todo mundo ficou sabendo que era ele ali. Ele era
um cara assim é... Várias reuniões, a gente fez com os dominicanos,
ele se vestia de padre (risos), gostava de ficar conversando com as
freiras (risos), queria ganhar as freiras no papo, ele vibrava com isso,
ele vibrava com isso.


Edson – Isso dentro do convento?
Roberto – Dentro do convento. Era muito longe, um convento
com freiras e aquele puta crioulão lá, com batina até no joelho (risos).
Eu fiz isso umas três vezes, ele queria ganhar as pessoas.


Edson – Ele queria atrair as freiras para a luta como atraiu os
padres?
Roberto – É, como atraiu os padres. Então, ele tinha aquele lado,
se preocupava muito com a gente, valorizava.

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