marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
340 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Edson – Ele chegou a comentar algo das prisões por que passou?
Roberto – Comentou muito. Falava da prisão, aquele episódio
do Rio que ele reagiu à prisão, ele contava muito sobre aquilo lá. Eu
o levava em muitos lugares e, às vezes, ele ia contando.


Edson – Sempre incentivando?
Roberto – Sempre incentivando. A vida só valia enquanto você
lutava pelos pobres, o resto era...


Edson – Em relação à morte, Roberto, como que você vê essas
versões sobre a morte de Marighella?
Roberto – Não existe o herói na tortura. Tem um limite. É claro
para mim que os operários, naquela época, resistiram mais do que a
gente, classe média, universitários, e é claro que nós resistimos mui-
to mais do que os padres, eles não estavam preparados para isso. A
prisão é uma violência, a tortura é um massacre, é muito complexo.
Quando eu encontrei os dominicanos, os dominicanos tiveram uma
ligação direta comigo, porque a gente estava montando um esquema
de gráfica, eles eram muito meus amigos antes, quando eu era da Ação
Católica, frequentei muito o convento dos dominicanos, quando eles
vieram para a ALN, eles vieram muito depois.


Edson – Antes da JEC e da JUC você já frequentava?
Roberto – Já frequentava. E lá tinha um cara fantástico, que era
o padre Chico, um grande orador. A missa das 19h dele parava um
quarteirão todo lá, era fantástico.
Bom, mas aí vieram esses grupos de dominicanos, a missão que
eles tinham era fazer o quê? A inteligência dentro da ALN; analisar,
informar, mesmo depois dos levantamentos ver como é que a gente
ia fazer aquilo, providenciar documentos, mandar informação pra
fora, criar uma rede pra fora, de levar o pessoal embora, o Betto foi
lá. Meu caso mesmo, levei o [Norberto Guerra] entreguei na mão

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