marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
342 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

chegavam com alicate e tiravam mecha de cabelo, o coro comendo lá.
Daí me levara numa sala meio escura que estavam três paus-de-arara
armados, estava cheio de água e o pessoal da tortura brabo lá, tiraram
eles de um lugar, que eu não sei se era o pau-de-arara, estava escuro
lá, botaram na minha frente, eu não reconheci os caras.


Edson – Os dois?
Roberto – É, eu não reconheci primeiro o Fernando, eu não
reconheci a voz, nem o jeito. O Fernando eles tinham passado um
maçarico aqui e a cara dele estava completamente deformada, estava
deste tamanho, de um lado só estava tudo torto, a boca dele estava toda
inchada, não dava para saber o que ele estava falando, barbaridade.


Edson – E você, chegaram a te perguntar sobre Marighella?
Roberto – Claro. Eles vieram logo em seguida para cá, então, eles
prenderam uns dominicanos. Eu tinha muita relação com eles, e esses
sim falaram muita coisa a meu respeito, que eu dava cobertura ao
Marighella, que eu fazia isso, fazia aquilo, que eu conhecia o Toledo,
isso foi complicando um pouquinho. O problema da polícia é o
seguinte: se você tentar a história mentirosa, isso você aprende com
outro cara, se ele tem a mesma história mentirosa, se bateu, acabou.
O problema é o seguinte: eles põe você no pau-de-arara, tapam seu
nariz assim, põe uma sonda aqui, tapa a sua boca e eles perguntam a
você: “Olha! Fulano de tal está ali, ele falou isso, isso, que no dia tal
você saiu para tal lugar, em tal carro, você estava num tal jeito, fazen-
do assim, assim. Quem que você foi encontrar lá?” “Não sei”. Fodeu!
Eles levantavam o negócio para fazer afogamento. E o que era isso aí?
Era salmoura e urina. Como que você quer que um cara resista a isso?


Edson – É complicado.
Roberto – (Emocionado) É foda, cara. Não tem jeito. Esses caras
passaram por tudo isso.

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