EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 343
Edson – Eles queriam o Marighella?
Roberto – Queriam o Marighella. Só o Marighella, chegar no
Marighella. “Cadê o Marighella? Cadê o Marighella?”
Edson – Você sentia uma certa irritação deles, um medo em
relação ao Marighella?
Roberto – Ah! Com certeza. Eles estavam completamente dopados.
Eles pegavam esse negócio de Mogadon, punha na boca e mastigava.
Isso aí foi uma tortura direto, troço brabo com todo mundo até mais
ou menos quatro horas da tarde, quatro horas acabou, sumiu. Deixa-
ram a gente no chão. Daí levaram para a sala de um delegado, ficou
todo mundo numa sala meio escura, e daí levaram a gente para baixo.
Edson – Isso no Dops?
Roberto – No Dops. Então, a gente estava sendo torturado pelo
segundo ou terceiro andar e as celas eram lá embaixo, lá pra baixo
mesmo, no porão. Era um tal de um delegado, Edson Mainhotti,
porque na tortura sempre tem um jogo fudido, tem os mauzinhos e
um bonzinho, e o Edson Mainhotti era o bonzinho. Então, fechou
todo mundo e disse: “Não vou deixar mais torturar vocês. Vou man-
dar buscar um lanche.” Mandou buscar lanche, água. Chamava um e
falava: “Você falou muito, não falou muito, cuidado!” Estava querendo
tirar o sono da gente. É um jogo que eles fazem. E aí levou a gente lá
pra baixo e eles não, os dominicanos não. E aí estava todo mundo lá,
e aí você imagina, todo mundo arrasado, machucado, ensanguentado,
uns colchões muito ruins jogados nos cantos, uma luz forte assim o
tempo inteiro, o banheiro sem nada fechado, aquele banheiro que
você faz no chão, um troço brabo. Bom, aí quando chega lá pelas
nove horas eles aparecem lá, o Fleury, o Raul Pudim, esse pessoal
todo, fizeram uma puta festa dizendo que tinha matado o Marighella.
Edson – Vocês, até então, não sabiam o que estava acontecendo?