marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 355

de “direita”, que isso ia tirar o caráter revolucionário do partido, era
absurdo, tanto que o manifesto de 1958, que sai e muda a direção,
foi um negócio muito difícil, só saiu por um voto, uma coisa assim,
se não me falha a memória, foi muito difícil. Então, havia um pouco
esse negócio, como havia também o contrário. Esse pessoal que queria
mudar chamava os outros de conservador, sectário, dogmático, mas
do ponto de vista da estrutura orgânica do partido, era esse pessoal
conservador que tinha a maioria naquele momento.


Edson – Não sei se você se recorda, mas esse rótulo e a forma
como o partido conduziu, ele ficou sabendo?
Salomão – Ele era bastante inteligente para saber o que era dito
dele, mas ele sabia certamente.


Edson – Você acha que isso teve alguma contribuição para que
ele abandonasse o partido um pouco mais tarde?
Salomão – Se você quiser um palpite, eu acho que muito ao
contrário. Ele jogou muito forte pela saída pela democracia, das
reformas democráticas e o golpe, o próprio movimento chocou ele
profundamente e aí talvez aconteceu um pouco com ele, é um palpite
meu, que ele caiu um pouco para o outro lado, “não tem mesmo jeito
por aí”, o golpe foi uma coisa, muita gente tinha a ilusão, o Prestes
chegou a dizer que “se o golpista botar a cabeça de fora a gente corta
a cabeça”, mas não era a cabeça de uma pessoa só, era, majoritaria-
mente, o pensamento das forças. O fato é que o trabalho de massas,
tinha muito militar, muita ilusão, que o Jango tinha militar, aquela
bobagem toda. Mas, na época, isso teve muita força, e eu acho que
isso influiu muito na cabeça dele e ele, até para ser coerente com o
que pensava desde o começo, ele estava achando que aquilo era um
caminho sem volta, sem retorno, de repente o troço vira ao contrário.
Eu acho que isso deixou ele, desequilibrou a cabeça dele. Depois vem
a prisão, aquele troço todo. E também por que me parece que ele

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