358 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA
golpe da direita. Eles não deixaram o Jango tomar posse, foi quando o
Brizola resolveu resistir. Havia dois amigos nossos que estavam servin-
do o exército naquela época, aliás, estavam servindo a aeronáutica, o
serviço militar, estavam na PA, Polícia da Aeronáutica. Provavelmente,
por influência do clima de quartel, de discussão dentro do quartel
- esse quartel parecia ser mais progressista – esses dois terminaram
se engajando na resistência lá do Sul. Se mandaram, foram para lá e
ficaram. Depois que o incidente foi superado, eles retornaram para
São Paulo, só que com uma nova cabeça.
Edson – Qual era o nome desses seus amigos?
Manuel – Saber eu sei, mas prefiro não falar. Quatro compa-
nheiros, contando comigo. Aliás, a repressão não teve informação
sobre eles, até teve indicação, alguns fazem parte do processo, do
processão da ALN, mas não sabem direito o que eles fizeram, nunca
foram presos. O quarto terminou sendo assassinado em 1972. Eu
fui preso em 1969, em 1972 [ele, o quarto companheiro citado] foi
assassinado. Os outros estão por aí, até entraram no processão da
ALN, mas não teve nada. Retornam do Sul com uma outra cons-
ciência, um grau de politização muito maior. A turma era grande,
turma de rua, de bairro. Continuamos a ter nossa vida normal de
garoto, de moleque.
Edson – Qual era a média de idade de vocês?
Manuel – Eles eram um pouco mais velhos do que eu. Tanto é
que eu nasci em 1946, em 1962 estavam servindo o Exército, deviam
ser uns dois ou três anos mais velhos que eu, mas tinham irmãos da
minha idade, mais próximos, todos muito próximos. Tinha um time
de futebol na rua, ali embaixo da Perdizes, onde é hoje a Avenida
Sumaré, na época, eram vários campos de futebol, futebol de várzea,
não estava globalizado ainda e a gente jogava futebol. Tinha um
time, o Anchieta (risos), mas, gradativamente, levávamos uma vida