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a modelar em 3D, ou imprimir ou programar, ou fazer um
circuito eletrónico ou soldar.
...É apenas um hóbi?
Temos muitas empresas, e muitos engenheiros que podem
querer desenvolver um produto e que veem quatro ou cinco
soluções... mas vêm ter connosco para tentar saber se resultam.
Há uma entreajuda brutal – mas ainda temos uma entreajuda
maior quando alguém está à espera de um componente que
demora a vir da China e surge outra pessoa a disponibilizar
esse componente, porque tem lá em casa.
... E se uma empresa começar a fazer dinheiro com as vos-
sas ideias?
Não há problema. Vivemos bem com isso.
Isso não é um contrassenso com a lógica maker?
Às vezes, há soluções muito interessantes... já desenvolvemos
alimentadores para gatos, interruptores inteligentes, caixas
de correio inteligentes, que enviam notificações com fotos
quando alguém lá vai colocar uma carta.
Tendo em conta a procura, as viseiras seguramente que
teriam dado para fazer negócio!
É algo que está a acontecer. Infelizmente tenho essa informação.
Quando perguntei se o Hospital de Leiria precisava de viseiras,
isto ganhou uma dimensão astronómica, porque o post foi
partilhado por muita gente. Tínhamos 3000 membros e, em
10 dias, passámos para 10 mil. Tínhamos ouvido falar em ven-
tiladores impressos que estavam disponíveis em open-source.
Começámos a desenvolver versões nossas, mas tudo com muita
calma. Até que percebemos que os ventiladores podem não
ser tão necessários se conseguirmos conter a pandemia com
equipamento de proteção. Vi modelos de viseiras que deixavam
runo Horta criou Movimento Maker no Face-
book – e tornou-se conhecido pela produção
de viseiras de proteção contra a Covid-19.
O Movimento Maker tem um líder?
Sou a pessoa que criou o grupo, há três anos. A
malta das tecnologias nem sempre partilha o conhecimento,
mas se partilharmos conseguimos ter uma comunidade po-
livalente e uma entreajuda maior. No grupo (de Facebook),
não há senhores, não há doutores nem há engenheiros. Somos
todos makers. Nos nossos encontros. estabelecemos que quem
chamar senhor a outra pessoa tem de lhe oferecer um Arduino
ou outras coisas do género...
Também podíamos chamar ao grupo o Movimento dos Ami-
gos das Impressoras 3D...
As impressoras vieram depois. Este movimento começou com
os amigos dos Arduinos, dos microcontroladores, da Internet
das Coisas (IoT), dos dispositivos inteligentes... comecei por
desenvolver o interruptor BHOnofre... Para quando alguém
pergunta: “para que é que essa placa?”, eu respondo: “faz
onofre”, que é como quem diz liga e desliga (risos). O projeto
evoluiu com outros makers, malta da eletrónica e do desen-
volvimento de produto. Apareceram carpinteiros, “bricolas”
que querem fazer coisas...
Bricolas é a alcunha de quem faz bricolage?
Sim, transformamos os bricolas em bricolas 3.0, que sabem
eletrónica, sabem programar, sabem apanhar choques nas
fichas (risos)... Tenho um canal de Youtube em que vou dando
formação e criámos um kit de iniciação à eletrónica e fazemos
encontros grátis pelo País, para nos juntarmos e convidar
malta para falar do que faz e partilhar experiências, e ensinar
O FAZEDOR
DE SONHOS
No Movimento Maker, ninguém manda. Basta ter engenho,
voluntarismo e respeito pelas ideias alheias. Foi assim
que o grupo informal pôs a indústria a mexer na produção
de equipamentos de proteção contra a Covid-19
BRUNO HORTA
Tex t o Hugo Séneca Fotos D.R.