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osé Tribolet, presidente do
INESC, regressou a Portu-
gal de um doutoramento
nos EUA na década de
1970, ainda com as ruas
marcadas pela revolução. Dessa data até
hoje, assistiu à digitalização de redes
e centrais telefónicas, acompanhou a
expansão da Internet, e passou como
todas outras pessoas a usar telemóvel e
apps. Mas foi com o confinamento social
ditado pela Covid-19 que concluiu que o
sistema tecnológico se prepara para uma
guinada numa direção plausível, mas
inesperada. “Nunca mais se vai voltar
para trás”.
Sem Internet, o confinamento teria
sido diferente e, em muitos casos, seria
inviável, como atestam as filas de espe-
ra para compras nos sites dos maiores
supermercados nacionais. Sem confi-
namento, provavelmente, o uso da In-
ternet não mudava – e, provavelmente, a
sociedade não mudaria com ele. Tribolet
dá como exemplo os efeitos gerados pela
corrida ao teletrabalho: “As empresas
vão perceber que têm usado os espaços
de forma muito ineficiente, e vão querer
revalorizá-los como locais de encontro
entre profissionais e não tanto como lo-
cais de trabalho”.
Nas viagens de negócios, a mudança
será mais acentuada: “Não fazem sentido
as viagens de negócio a Singapura, com
todo o dinheiro e tempo que exigem, só
para fazer reuniões de três horas com
pessoas que já se conhecem”, refere o
presidente do INESC.
ADEUS, HORA DE PONTA!
Com a aposta no teletrabalho, mudam
horas e fluxos de entrada e saída nas
cidades. “Passamos a ter teletrabalho,
ensino à distância, serviços remotos
- o que cria uma oportunidade para a
economia da partilha. Por outro lado, a
euforia associada a esta nova realidade
digital, com o tempo poderá revelar al-
gumas fragilidades, se verificarmos que
nos limitámos a mudar de canal, mas
continuamos a fazer o mesmo, com os
mesmo processos de sempre”, Miguel
de Castro Neto, coordenador do Nova
Cidade – Laboratório de Análise urbana.
Na Câmara Municipal de Lisboa, a
aposta tem recaído em ferramentas que
facilitam a interação com o cidadão – e a
partilha de dados. Hoje, a Plataforma de
Gestão Inteligente de Lisboa lida com 182
camadas de dados que permitem definir
planos para a recolha de contentores,
poluição sonora, fluxos de trânsito, entre
outras variáveis.
A Covid-19 fechou milhões de pessoas em casa – e deu nova vida a ferramentas
digitais que nem sempre eram usadas. Teletrabalho, novas rotinas e multiplicação
de sensores vão obrigar a reconfigurar redes, espaços urbanos e mentalidades
O ACELERADOR
DIGITAL
TELETRABALHO