Ascensão de Lula retarda rompimento do mercado financeiro com
Bolsonaro
Banco Central do Brasil
Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
quarta-feira, 10 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Paulo Guedes
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Autor: Julio Wiziack
Brasília A possível candidatura de Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) à sucessão presidencial em 2022 piorou o
humor de algumas das principais instituições do
mercado financeiro.
Elas agora relutam em romper com Jair Bolsonaro (sem
partido) apesar da certeza de que o presidente não irá
cumprir a prometida agenda liberal e que trabalha, nos
bastidores, para agravar ainda mais o quadro fiscal
como forma de viabilizar sua reeleição.
Antes da decisão do ministro do Supremo Edson
Fachin, que anulou todas as condenações contra o ex-
presidente pela Justiça Federal de Curitiba -
devolvendo, assim, os direitos políticos a ele - na
segunda (8), banqueiros e gestores dos maiores fundos
de investimento do país já estavam prestes a romper
com o governo.
Contrariados com as promessas liberais não cumpridas,
a intervenção de Bolsonaro na Petrobras e nas estatais,
e céticos em relação ao poder do ministro da Economia,
Paulo Guedes, representantes das maiores instituições
financeiras do país se animavam com a possibilidade de
apoio a um nome de centro para a sucessão
presidencial.
Esse grupo recebeu a decisão de Fachin como um
balde de água fria.
A Folha ouviu dois presidentes dos maiores bancos
comerciais, dois gestores de investimentos e dois
economistas-chefes de instituições financeiras, sob
condição de anonimato.
O clima de frustração entre eles foi unânime. Afirmaram
que o setor estava muito perto de um rompimento com
Bolsonaro diante do agravamento acelerado dos
principais indicadores da saúde financeira do país:
inflação, câmbio, juros, endividamento e risco-país.
Um dos bancos operava com dois cenários no início
deste ano. No mais otimista, que previa travas de
controle fiscal na PEC Emergencial, o país conseguiria
manter o câmbio na casa de R$ 4,70 e a inflação sob
controle.
No modelo mais pessimista, o governo não conseguiria
impor rigor fiscal na PEC e o câmbio chegaria a R$ 6
rapidamente com inflação em alta. Nesta terça-feira (9),
o dólar fechou a R$ 5,80.
Diante desse cenário político, dizem que será preciso
"dar alguns passos atrás" porque Bolsonaro voltou a
ganhar força e pode preservar o apoio do setor caso
sinalize com alguma reforma, qualquer que seja.
Sabem que dificilmente reformas mais estruturantes
serão realizadas mas, para redobrar a aposta,
Bolsonaro "terá de entregar alguma coisa", ainda que
seja um simplificação tributária. Nesse caso, querem um