Banco Central do Brasil
Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
quarta-feira, 10 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Paulo Guedes
compromisso do próprio presidente e da ala ideológica.
Do ponto de vista do controle fiscal, já não bastam mais
medidas paliativas como o fim do abono salarial ou o
congelamento de salário de servidores. Para o mercado,
essas medidas já deveríam ter sido tomadas havia mais
tempo como forma de abrir algum espaço para
despesas agora necessárias com a pandemia.
Como ainda não precificaram o "risco Lida" - cálculo do
impacto da candidatura nos indicadores econômicos
aos quais está atrelada a remuneração dos
investimentos - , não têm um "plano B".
No entanto, resistem ao petista porque não querem a
volta das políticas de aumento da intervenção do estado
na economia e nas empresas, como a concessão de
subsídios diretos a setores ou por meio de créditos do
BNDES.
Mas reconhecem que haverá um racha no
empresariado. Para eles, setores pouco produtivos e
contrários à abertura de mercado, como a indústria,
tendem a apoiar Lula mirando a volta das políticas
assistencialistas.
Na avaliação desses banqueiros, apesar de Bolsonaro
estar mais confiante na aprovação pelo Congresso de
uma pauta "mais populista capaz de garantir a
reeleição", o setor tem mais chances de alguma reforma
com Bolsonaro do que com Lida devido à base de apoio
que o presidente arregimentou no Congresso.
Isso não significa que estejam confortáveis com essa
possibilidade. O mercado considerou a votação da PEC
Emergencial como marco da retirada de apoio ao
governo. Caso a PEC fosse aprovada sem as travas
fiscais, marcaria a debandada de instituições nacionais,
agravando a queda da Bolsa.
Desde que foi submetida ao Senado, esses executivos
afirmam que vêm monitorando a atuação do Planalto
nos bastidores. Seus emissários detectaram a intenção
de Bolsonaro de retirar da PEC gastos sociais para,
assim, escaparem da lei do teto - regra fiscal que
restringe a correção das despesas de um ano à inflação
do ano anterior.
Uma brecha no texto podería tornar sem efeito o trecho
que previa cortes de benefícios tributários, deixando
intocados os incentivos existentes hoje na legislação.
Apesar do esforço do Planalto em agradar à base
aliada, o Senado preservou dispositivos que garantiram
algum controle fiscal.
Esses banqueiros afirmam que, nesta semana, com o
texto tramitando na Câmara, Bolsonaro delegou a tarefa
de conseguir novas brechas para gastos fora do teto
para um deputado da base aliada e a seu filho Eduardo
Bolsonaro (PSDSP).
Segundo esses executivos, Bolsonaro queria conceder
benefícios para setores da economia que o apoiam -
como a indústria - e beneficiar categorias do ajuste,
como policiais e outros profissionais da segurança
pública. Escapariam, por exemplo, de congelamento
salarial.
No entanto, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-
AL), afirmou que a "maioria esmagadora" dos partidos
da base apoia o texto como veio do Senado, para
acelerar a liberação do auxílio emergencial.
Nas últimas semanas, a B3 perdeu mais de R$ 15
bilhões com estrangeiros que venderam suas ações de
empresas nacionais, especialmente Petrobras. Com a
alta dos combustíveis, Bolsonaro interveio na petroleira
trocando o presidente, que resistia a conter as
remarcações com caixa da companhia.
O principal executivo de um banco estrangeiro de
investimento ironizou a fala do ministro da Economia,
Paulo Guedes, de que o dólar chegaria a R$ 5 se o
governo "fizesse muita besteira".
Na segunda-feira (8), o dólar ficou R$ 0,10 mais caro.
Amoeda fechou em alta de 1,67%, a R$ 5,7770, maior
valor desde 15 de maio de 2020. Nesta terça (9), foi a
R$ 5,7920.