Banco Central do Brasil
Revista Exame/Nacional - Economia
quinta-feira, 11 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - FMI
rádio. Com a eletrificação, as fábricas não precisavam
mais depender da energia de um único motor conectado
às máquinas. O motor de combustão interna ganhou
força na década de 1920, movimentando carros,
caminhões, máquinas agrícolas e aviões. O número de
motoristas quase triplicou.
A ascensão do automóvel levou a investimentos em
estradas e casas nos subúrbios, bem como à produção
de borracha, aço, vidro e petróleo. Robert Gordon,
economista da Universidade Northwestern, é um dos
principais defensores do argumento de que os tempos
modernos de hoje não estão à altura dos tempos
modernos de 1920. A pedido da reportagem, Gordon
coletou números sobre a produtividade do trabalho de
1893 a 2019, agrupando os dados em períodos
aproximadamente iguais que começassem e
terminassem em ciclos de expansão.
Os dados até 1948 vêm de um livro que ele escreveu,
The Rise and Fall of American Growth (“Ascensão e
queda do crescimento americano”, numa tradução livre).
O restante são dados oficiais. Os números mostram que
o crescimento da produtividade acelerou em 1920 e
permaneceu alto por meio século antes de cair depois
de 1973. “Embora seja provável que o crescimento da
produtividade se recupere na década de 2020, não há
chance de crescimento sustentado ao longo de uma
década que corresponda à conquista dos anos 1920”,
diz Gordon.
Uma lição é que o tempo é importante. A década de
1920 decolou porque as tecnologias vinham sendo
desenvolvidas por várias décadas e finalmente estavam
prontas para implantação em massa. Pode não ser o
caso hoje.
Robert Gordon chama a década de 1920 de “uma
década que desafia a mais simples descrição”. Foi uma
época de libertação, em que as mulheres tiveram direito
a voto e ousaram usar saias curtas, fumar cigarros e
beber coquetéis baratos, enquanto poetas, autores e
músicos negros encontraram grandes públicos. Mas as
mulheres ainda enfrentavam discriminação e negros
americanos e imigrantes enfrentavam isso e pior.
A Lei da Imigração de 1924 bloqueou as portas para
imigrantes da Ásia e restringiu seriamente a imigração
do sul e do leste da Europa — atraindo a admiração de
ninguém menos que Adolf Hitler.
Foi uma época de crescente prosperidade, mas também
de crescente desigualdade de renda e de profundas
divisões na sociedade. Trabalhadores de fábricas,
investidores em ações e grandes empresas se deram
bem, mas a economia agrícola, ainda considerável, foi
impactada pela queda de 53% nos preços dos produtos
agrícolas na recessão de 1920-21 e levaria anos para
se recuperar.
Os primeiros três anos do mandato de Trump foram
igualmente marcados por uma maré de forte
crescimento econômico que alavancou a economia,
embora não totalmente. A taxa de desemprego para os
negros, por exemplo, atingiu uma baixa recorde. A
pandemia destruiu grande parte desse progresso.
Trazer a economia de volta a seu potencial e melhorar a
vida dos menos afortunados é uma segunda razão,
depois de salvar vidas, para acelerar a distribuição de
vacinas.
Talvez a lição mais importante que a década de 2020
possa aprender com a de 1920 seja o perigo do
isolacionismo. Os Estados Unidos emergiram da
Primeira Guerra como a economia mais poderosa do
mundo e seu maior credor, tendo financiado o esforço
de guerra das potências europeias. Mesmo assim, os
Estados Unidos resistiram em assumir a liderança
global. Fartos da Europa e de sangrentas disputas, os
isolacionistas do Congresso impediram os Estados
Unidos de ingressar na Liga das Nações.