JOSÉ SÓCRATES - Bom dia, Brasil
Banco Central do Brasil
Revista Carta Capital/Nacional - Colunistas
quinta-feira, 11 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
Clique aqui para abrir a imagem
Clique aqui para abrir a imagem
Autor: JOSÉ SÓCRATES
Lula não é um homem do passado, mas um homem
com passado. E isto é necessário para construir o futuro
A política aí no Brasil não é, de fato, para amadores.
Nem para cardíacos. Tenho de confessar que muito me
atrai esse gosto pelo imprevisto e pela reviravolta
inesperada que carateriza a política brasileira. Para o
bem e para o mal. Talvez por essa razão nunca tenha
sido capaz de ver até o fim o filme Borgen, série
televisiva de sucesso aqui na Europa, que sempre tinha
o efeito de me recordar quão maçante e aborrecida é a
vida política nos países nórdicos. Ao contrario, aí no
Brasil, ninguém pode se queixar de tédio. De um dia
para o outro mudou todo o quadro político e o ponto
crítico é o que diz respeito a Lula: está de regresso ao
jogo. E isso muda tudo. Oh, se muda. Vamos então à
análise que o momento pede. Aqui vai a minha primeira
reflexão. O Brasil ganhou ontem duas coisas: a primeira
foi acabar com um certo mal-estar nacional, a segunda,
ganhar um novo protagonista.
Comecemos pela primeira. Julgo ser inegável afirmar
que, em particular neste último ano, o povo foi
progressivamente tomando consciência da monstruosa
injustiça judicial cometida contra o ex-presidente. Não
podia continuar. O sentimento dominante no País – e,
ponto muito importante, esse sentimento não é
exclusivo dos apoiadores do antigo presidente – é de
que, finalmente, se pode respirar de alívio. Há,
naturalmente, quem não tenha percebido que o
acontecimento vai muito além das fronteiras partidárias.
Há também quem não disfarce o azedume e continue a
falar de “figurinha repetida”, não percebendo que o que
ontem acabou foi justamente a ideia dessa “nova
política” em que tudo se resumiria a uns cursinhos de
formação, uma boa carinha e uma boa agência de
comunicação. Este ciclo de governança de Bolsonaro
será tão traumático que a política brasileira não
desejará mais pagar o preço da inexperiência e do
aventureirismo. Salvo melhor opinião, a decisão abriu
um novo ciclo.
Antes de passar à frente é preciso fazer a justiça de
reconhecer que o que aconteceu representou uma