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Revista Carta Capital/Nacional - Colunistas
quinta-feira, 11 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

extraordinária vitória judicial. Cinco anos de insistência,
de batalha, de vontade e sentido do dever. Cinco anos
sem esmorecer. Ao fim de todos esses anos podemos
dizer que Cristiano e Waleska Zanin fazem agora parte
do pequeno grupo de cidadãos que percebem que só
amamos as vitórias que os demais consideraram
impossíveis. Eles, e os juristas que desde a primeira
hora os acompanharam, entre os quais, é de meu
particular gosto destacar, o meu bom amigo Rafael
Valim. Na verdade, só essas vitórias contam. Só elas
ficam.


Acresce ainda que a questão em jogo é de capital
importância. Não se trata de uma minudência, de uma
bagatela. Não. Trata-se da questão do juiz natural, um
princípio constitucional universalmente consagrado. O
juiz do caso deve ser aquele que está previamente
determinado na lei e não um juiz escolhido ad hoc, isto
é, escalado para aquele caso em especial. Todo o
escândalo de Curitiba baseou-se nessa manipulação
inicial, na escolha da jurisdição. O que se passou, para
ser mais direto, é que, ali, o Ministério Público, uma das
partes, escolheu o juiz, o seu juiz. O jogo sempre teve
as cartas marcadas. Bem sei que a escolha arbitrária do
juiz é um dos clássicos dos casos de lawfare e por isso
é tão importante que a manipulação tenha sido
desmascarada e vencida. Só as ditaduras escolhem
juízes, as democracias não o fazem, deixam que as
regras da lei, previamente fixadas, o façam.


Vejo também espalhada a ideia de que se tratou de uma
ação de desespero para salvar o ex-juiz Sergio Moro do
incidente de suspeição que estaria agendado para
decisão do Supremo. Talvez. Mas gostaria de lembrar
que não é próprio da política disparar sobre uma
ambulância. O antigo juiz está, há muito, em coma
político, vítima, aliás, de si próprio – do seu fingimento e
da sua pequenez. Como juiz foi indigno, como político,
medíocre.


Olhemos para o futuro. O Brasil tem agora a
oportunidade de se reconciliar consigo próprio. De fazer


regressar a política ao terreno da disputa leal e de
respeito pelos adversários. A tarefa é gigantesca. Vai
ser preciso um novo pacto de desenvolvimento. Vai ser
preciso espírito de compromisso. Vai ser preciso
reconstruir as pontes que a violência, a brutalidade e o
crime destruíram e que ameaçaram a própria existência
democrática. Esse trabalho histórico precisa de uma
personagem. Alguém cuja biografia e história lhe
permitam elevar-se acima do trauma e do
ressentimento, estendendo a mão para um novo
começo. Um novo tempo começou. Era certamente
neste momento que pensavam todos aqueles que, em
Curitiba, durante 580 dias, gritaram bom dia, presidente,
boa noite, presidente. Bom dia para vocês também, que
este é um novo dia. Lula está de volta. Ele não é um
homem do passado, é um homem com passado. E só
os homens que têm um passado saberão como, de
novo, construir um futuro.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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