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Revista Carta Capital/Nacional - Colunistas
quinta-feira, 11 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
ela, ignorar quem pensa diferente. Mesmo que à custa
de escandalizar o resto do mundo.
Bolsonaro construiu a vida sendo um representante do
autoritarismo típico do pensamento militar e policial dos
subúrbios cariocas, preocupado unicamente em
disparar ameaças, grosserias e preconceitos contra os
mais fracos e os diferentes. Nunca soube pensar (e não
precisou aprender) qualquer coisa construtiva, uma
proposta ou projeto de interesse mais amplo. Fidelizava
seu eleitorado escoiceando mulheres, negros e negras,
homossexuais, intelectuais, artistas e esquerdistas,
garantindo nos quartéis os votos para se reeleger
(juntamente com a distribuição de honrarias a seus
irmãos milicianos).
É isso que sabe fazer e foi assim que fez sua pré-
campanha a presidente em 2017. E ficaria limitado ao
tamanho dessa parcela minoritária na sociedade
brasileira, caso não se beneficiasse da saraivada de
golpes e intervenções indevidas que marcaram aquela
eleição. Para pensar a próxima, podemos começar
voltando ao que o eleitorado fez no segundo turno em
2018: 39% dos eleitores escolheram Bolsonaro, 32%
votaram em Haddad e 29% se abstiveram, votaram nulo
ou em branco.
As quase 58 milhões de pessoas que votaram no
capitão têm de se fazer as perguntas normais em uma
reeleição: valeu a pena, foi bom, o voto foi
correspondido? Aconteceu o que elas esperavam, o
candidato merece ser reeleito? A aposta de risco que
muitos fizeram (pois ele era mal conhecido pela maioria)
deu certo, era isso mesmo que queriam? A saúde, a
economia, o emprego, a renda, a educação, a
habitação, a segurança, o meio ambiente, a ciência, as
artes e a tecnologia, a imagem internacional do País,
estão dentro de suas expectativas?
Uma eleição majoritária é bem diferente da
proporcional, em que a satisfação ideológica pode ser
suficiente para definir o voto. Mas o capitão continua
pensando como se fosse um candidato a deputado de
militares reacionários e policiais truculentos, que é o que
sabe ser. Acredita que coice ganha eleição.
Três anos atrás, 90 milhões de eleitores não votaram
em Bolsonaro. É possível que alguns lamentem,
achando que ele foi uma grata surpresa, tendo se
revelado um presidente competente e cheio de
qualidades. Mas o mais provável é que a vasta maioria
não ache isso.
Ao contrário do que pensam alguns, Bolsonaro deve
perder a próxima eleição. Seria muito melhor para o
Brasil que saísse logo e não tivéssemos de aguardar
até janeiro de 2023 para nos livrarmos dele. Muita gente
deixaria de morrer estupidamente.
Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
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