não estava sendo honesto com ele... — eu emudeço e solto um
longo suspiro. — Ou comigo mesmo.
— É difícil ser a pessoa que errou, não? — Ela diz, seu rosto
ficando triste.
Eu me apoio em um braço. É muito difícil para Marley se abrir.
Ela nota minha reação e me lança um sorriso tênue.
— Desculpa. Eu não quis dizer isso. É engraçado. Eu sempre
fui quieta. Supertímida. Ao ponto da Laura às vezes ter que falar
por mim. — Ela desvia o olhar na direção do cemitério. — Ela
sempre sabia o que eu queria dizer. Talvez porque fôssemos
gêmeas.
Ela sempre evita falar da irmã. Nada de histórias tristes. Isso
é importante para ela.
— Nós éramos idênticas. Em quase tudo — Marley diz e a
nuvem escura atrás de seus olhos toma conta dela. Do vinco na
sua testa até a forma cansada como seus ombros se curvam,
isso a consome. É como se uma pessoa totalmente diferente
estivesse sentada na minha frente. — Quando eu a perdi, eu
perdi minha voz. Mas agora, com você... — Ela silencia, olhando
de volta para mim, seus olhos clareando só um pouquinho. — Eu
sinto vontade de falar de novo.
— Fale tudo que você quiser — eu digo. — Eu estou aqui pra
isso. — Há uma magia nesse momento em que ela está me
deixando entrar e eu não quero quebrar o encanto, então embora
eu queira pegar na mão dela para consolá-la, eu não o faço.
Ela gira o dente-de-leão entre os dedos.
— Uma vida sem a Laura — ela diz com uma voz suave. —
Parece mais impossível quanto mais o tempo passa. Parece
errado.
Espero um pouco, mas ela não diz mais nada.
— Eu entendo — digo, sentando-me. E é verdade. Tudo na
vida depois do acidente parece errado. Exceto isso. — Mas
talvez nós dois possamos tentar achar algo que torne tudo um
pouco menos errado. Juntos.
— Como? — Ela pergunta.
As palavras flutuam na ponta da minha língua, mas não sei
por onde começar. Então eu penso em como nos conhecemos,
car0l
(CAR0L)
#1