Vou para a cozinha, tentando acalmar meus nervos. Por que
eu estou tão nervoso? Nós sempre ficamos tão confortáveis
juntos.
Eu abro a porta e vejo Marley em pé sobre o nosso capacho,
vestindo jeans e seu cardigã amarelo, o cabelo preso num coque.
— Oi — ela diz baixo. Ela me entrega um punhado de flores.
Eu dou uma examinada rápida, tentando adivinhar o que ela quer
me dizer com isso.
Eu olho para o conjunto de pétalas brancas e pequeninas,
mas não dou a sorte de saber o nome. Tudo que eu sei é que
são aqueles ramos de flores cheios, que parecem buquês,
geralmente plantados em frente a casas de avós.
— O que essas significam? — Eu pergunto a ela.
— São hortênsias — ela diz, pegando a alça da bolsa com
uma mão e esticando a outra para tocar um dos buquês floridos.
— Querem dizer... gratidão.
— Bom, eu estou cheio de gratidão pelas flores — eu digo,
sentindo vergonha de mim mesmo. Tem como eu ser mais sem
graça?
Por sorte, ela ri e entra, tirando os sapatos.
— Com fome? — Eu pergunto.
Ela assente e vira o rosto para a cozinha, farejando.
— O cheiro é bom.
Há algo parecido demais com alívio no rosto dela.
— Espero que o gosto esteja bom — eu digo enquanto
seguimos o aroma acolhedor da comida pelo corredor.
Quando entramos na cozinha, ela observa a mesa posta com
cuidado, os guardanapos dobrados, as velas que eu tirei da
última prateleira no armário do corredor. A mão dela se estica
para pegar o prato com a flor de condimentos e um sorriso
finalmente aparece nos seus lábios.
— Porque cada um merece seu próprio espaço — eu digo e
ela cora ao se sentar.
Há uma pausa desconfortável, uma tensão nova entre nós.
Uma eletricidade quente. Ela sente também? Eu tento ignorar a
sensação e manter minha voz leve ao sugerir atacarmos a
comida.
car0l
(CAR0L)
#1