achar que ela me conhece e que eu a conheço. Quer dizer, eu
estava dormindo esse tempo todo.
Por que eu nunca considerei que, mesmo se ela fosse real,
ela podia não me amar?
— Desculpa. Eu... merda. — Eu dou um passo para longe da
porta, sacudindo a cabeça. — Desculpa. Estou indo embora.
Eu me xingo. Quando eu vou entender? Na pressa para sair,
minha muleta esquerda se enrola em algo e, quando eu me
esforço para me endireitar, eu ouço um barulho alto atrás de
mim. Eu olho para baixo e vejo a alça da bolsa dela presa na
muleta, a bolsa aberta no chão.
Ótimo. Agora ela vai achar que eu estava fuçando nas coisas
dela.
Eu pego a bolsa, recolho alguns lápis soltos que rolaram para
o chão.
Mas quando eu os coloco para dentro, eu vejo a ponta de um
caderno amarelo vivo.
Eu olho mais uma vez para a porta fechada antes de pegá-lo
com cuidado. Na frente, escrito em uma letra bonita e familiar,
está o nome dela: Marley Phelps.
— Você tem um sobrenome — eu murmuro. Toma essa, Sam.
Antes que eu tenha a chance de pensar melhor, eu abro em
uma página aleatória e meus olhos se arregalam quando eu vejo
o que está escrito nela.
É a descrição do nosso Halloween, exatamente como
aconteceu. Ou como eu sonhei, acho. A fantasia que usei de
jogador zumbi, a hora que joguei toda a tigela de doces para as
crianças, os braços dela se erguendo para soltar sua concha.
Eu continuo olhando, lendo pequenos relances enquanto
folheio. O Festival de Inverno, a adoção de Georgia, comer
cachorro-quente perto do lago.
Está tudo bem ali.
Estou tremendo. Se tudo isso estava só na minha cabeça,
como ela sabe?
Meus olhos recaem sobre uma última palavra. “Contadora de
Histórias”. Então penso na nossa conversa no parque. Quando
ela me disse qual era a melhor parte de contar histórias.
car0l
(CAR0L)
#1