Eu dou um gole longo no uísque. Ele queima minha garganta,
mas ajuda as palavras a saírem mais fácil.
— Me desculpa, Sam.
Eu estou falando sério. Mas devo honestidade a ele.
— Eu sei que fui um amigo bosta, mas eu só... não
conseguia. Eu não conseguia ficar perto de você. Eu não
conseguia ficar perto de ninguém. Às vezes eu acho que ainda
não consigo.
Sinto os olhos dele me avaliando.
— Você está com uma cara de merda — ele diz, finalmente,
apontando para minha camisa amassada, cabelo precisando de
corte, barba estranhamente encaracolada.
Eu dou de ombros. Não me importo muito com a minha
aparência. Kimberly não está aqui para me ver. Era sempre ela
que me dizia que eu parecia um animal quando ia de moletom
para a escola. Que havia outras roupas além de shorts de
corrida. Que importa agora se eu faço a barba, penteio o cabelo
ou visto uma camisa limpa? E por que importava antes, se tudo
ia acabar assim?
— Bom — Sam suspira e o que resta da raiva dele parece
evaporar de seus ombros. — Eu estou feliz que não te perdemos
também, mesmo que você esteja com uma aparência de merda
— ele diz enquanto inclina o cantil na sua mão para servir mais
no copo.
Ele sorri e aponta com a cabeça para o cantil.
— Como isso chegou até aqui?
— Eu encontrei nas sacolas que vieram do hospital — eu
digo, apontando com a cabeça para o armário onde minha mãe
colocou as coisas depois de jogar fora meu paletó rasgado e
ensanguentado. — Minha mãe não deve ter notado.
Eu sei que podia pegar a saída fácil. Manter a conversa
assim, uísque e bobagens. Mas as palavras dele ainda ecoam no
meu ouvido. Algo nelas parece errado.
— Você está feliz por não ter me perdido também — eu
repito, sacudindo a cabeça. — Às vezes eu queria que tivesse
sido eu. Às vezes eu sinto como se estivesse esperando que ela
entrasse por aquela porta. — Eu olho para o outro lado do
car0l
(CAR0L)
#1